segunda-feira, 31 de julho de 2023

Nortada

 Lateja a mingua luz da montanha

Abraça-se a mim o vento em nortada

Esta casa em aflição

Que arde

Grita

Lateja a míngua luz do teu olhar

Socalco que se esconde no doiro rio

 

Lateja a míngua luz da montanha

Às árvores de cartolina colorida

O rio em saudade

Que arde

Grita

No centro da cidade

 

Lateja a míngua luz em silêncio

No silêncio que te beija

Deste rio que corre nas tuas veias

Entre lágrimas de chuva

E de estrelas sem brilho

Que também elas latejam

Na cidade luz

Da míngua montanha

Que dorme em desespero

 

Lateja a míngua luz nos teus lábios

Que sofrem

Que procuram a liberdade

Da luz que lateja da minha nortada

Nesta triste e pobre cidade

Que traz o vento

E leva de ti o sofrimento

E a saudade.

 

 

 

31/07/2023

Alijó

Francisco

Embondeiro

 Morreu abraçado a um embondeiro;

Quando lhe perguntaram de que tinha morrido,

Respondeu,

Morri de saudade.

 

Da minha janela oiço o mar

Da minha janela vejo as flores do meu jardim

A abraçarem

O mar,

 

Da minha janela pincelo o mar

Nos teus olhos,

Também eles,

Filhos do mar,

 

Da minha janela sinto o mar

Dos teus lábios

Nos meus lábios

Nas palavras que te escrevo

Das palavras que não recebo

Desta janela

O mar em despedida

Na despedida de te amar.

 

Deste mar,

Desta janela cinzenta

Deste amar

Do mar da minha janela,

No mar

Deste mar que em ti inventa

Que em ti abraça

Desta janela

Os teus braços

Que se vestem de mar

E me beijam em segredo.

 

 

31/07/2023

domingo, 30 de julho de 2023

O teu cabelo em flor

 Flor em teu cabelo

Do vento servidão

Do teu cabelo em minha mão

No teu cabelo o perfume da manhã

 

No teu cabelo em lágrimas

No triste silêncio do luar

No teu cabelo em flor amar

Do mar do teu olhar

 

Flor em teu cabelo

Em palavras poesia

Que sorri a cada dia

A cada dia do teu cabelo

 

Em flor do teu cabelo em flor

No teu abraço

Em flor teu corpo cansaço

Teu corpo em flor

 

Do teu cabelo em flor

O meu beijo nos teus lábios de mel

Que escondo neste papel

Em flor do teu cabelo em flor

 

 

 

Alijó, 30/07/2023

sábado, 29 de julho de 2023

Espingarda de espuma

 Pego nesta espingarda de espuma

E disparo o beijo

De coisa nenhuma

Do desejo

A fina bruma

Desta pedra que te abraça

Nesta pedra que te alimenta

Enquanto o silêncio ainda é de graça

 

De graça

Coisa alguma

Ou nenhuma coisa qualquer

Se eu soubesse

Não o sabia

Que depois de tanta graça

Escondeu-se o dia

E masturbou-se a poesia

 

Da maré em pedaços

Na mãe comestível madrugada

Sem braços

Nos teus braços minha amada

 

Minha amada

De nada

Pego nesta espingarda de espuma

E disparo o beijo

De coisa nenhuma

Do desejo

A fina bruma

Quando o teu corpo em mim se afunda

 

 

 

29/07/2023

Mussulo

 

Branca areia mar

Do amar marinheiro

Do triste companheiro

Em luta

Pela fome

Que labuta

Na procura de um nome

Em busca de um esconderijo com lábios de mel

E olhos de mar

 

Sentado sobre as ondas

Distante da branca areia mar

Do Mussulo em despedida

Sentida

A triste madrugada

No teu corpo em palavra

Na palavra sem mais nada

 

Maré cinzenta

Que pensa

Que alimenta

A branca areia mar

Do amar desgovernado

Às vezes perdido

Às vezes

Sentado

 

Na branca areia mar

Onde poiso o meu esqueleto

Onde escondo as minhas sombras

E mergulho no teu púbis

Como uma montanha incendiada

Como uma montanha amargurada

Da branca areia mar

Do amar cinzento

Que lamento

Que invento

Nos teus olhos

A branca areia mar

Do Mussulo

 

 

 

29/07/2023

O dia do nascer em teus olhos morre

 

O dia que foi

O dia que acaba de ser

E morre nos teus olhos

É o dia de ontem

Multiplicado pelo dia de amanhã

O dia que foi

O dia que vai deixar de o ser

Que traz a noite e o saber

E morre nos teus olhos

O dia que ainda vai nascer

 

O dia que foi

Dividido pelo dia que vai nascer

Será o dia sem ninguém

No dia de alguém

Quando o dia de ontem

Morre nos teus olhos

O dia que acaba de o ser

Não o é

Sem o saber

E fé

 

O dia no teu dia

Sendo um outro dia

O dia que foi

O que talvez amanhã será

E morre nos teus olhos

O filho do dia de ontem

Sem perceber

Sem o saber

Que o dia de amanhã

Não será

O dia sem fé

No dia que acaba de ser

 

 

 

29/07/2023

Francisco

O mar de saciar

 

Sacio a tua voz de flor sem nome

Com as amoradas que a noite esconde

Sacio-me com a tua voz depois de a saciar

Com as sílabas do mar

Sacio-te com o sol que desenhei

No cansaço do luar

Alegre

Ou triste

Sacio o teu sonho que também eu sonhei

Que também eu construí

E desenhei

Na tua boca em fome

 

Sacio-te no beijo

No abraço após o desânimo do beijo

Sacio os teus lábios de mel

Como os teus olhos de mar

Sem saber

Que saciar

Eu te sacio quando me esperas na gruta

 

Sacio as tuas mãos com as minhas mãos de enxada

Também ela

Saciada

De ti

Por mim

Toda a noite até que acorde a madrugada

Nem triste

Nem cansada

Mas também ela

Saciada

 

Sacio a tua voz de flor sem nome

Com as amoradas que a noite esconde

Sacio-me com a tua voz depois de a saciar

Com as sílabas do mar

E com os beijos de beijar

 

 

 

29/07/2023