sábado, 1 de julho de 2023

Beijo

 Peço ao teu sorriso de mármore envergonhado

Que escreva na palma da minha mão

Uma palavra,

Peço aos teus olhos de fogueira envenenada

Que escrevam na palma da minha mão

Uma palavra,

Peço aos teus lábios de mel…

Que não escrevam na palma da minha mão…

Uma palavra,

Peço aos teus lábios de mel…

Apenas um beijo

Um beijo na palama da minha mão.

 

 

 

01/07/2023

Francisco


 

Sono

 Toco-te,

Toco-te e escondes-te na primeira lágrima da manhã,

Toco-te,

E ausentas-te da minha mão…

Como um pedacinho de sono…

Em direcção ao mar,

Toco-te,

Toco-te…

Toco-te sabendo que há uma estalactite de silencio,

Indiferente…

Ao meu toque.

 

Toco-te,

Toco-te e escondes-te na página de um livro,

Ou na última palavra de um diário,

Toco-te…

E escondes-te,

E escondes-te debaixo desse pinheiro-bravo,

Que a noite traveste de indiferença…

 

Toco-te,

Toco-te e cada palavra que escrevo em ti…

É um Oceano indiferente às minhas palavras…

Toco-te,

Toco-te e escondes-te na primeira lágrima da manhã,

Toco-te,

E ausentas-te da minha mão…

Como tudo se ausenta da minha mão.

 

 

 

01/07/2023

Francisco

Sem nome

 


Noite

 Ainda ontem era noite

Nos teus doces olhos em pedacinhos de vergonha

Ainda ontem era noite

Nos teus lábios de insónia

Ainda ontem era noite…

No teu sorriso de madrugada,

 

Ainda ontem era noite

Nas tuas mãos em desejo

Nos teus braços

Os doces beijos,

 

Ainda ontem era noite

Quando da noite de ontem

Uma outra noite

Se despediu de mim…

Ainda ontem era noite

Noite estrelada…

Da noite do teu corpo

Na noite…

Sem mais nada,

 

Ainda ontem era noite

No sorriso da alvorada

Da pouca noite que resta…

Uma nova noite

Da noite apaixonada.

 

 

 

01/07/2023

Francisco

Anónimo

 Habito,

Habito dentro deste cadáver emprestado,

Fingindo que este cadáver emprestado,

Me pertence,

Não,

Este cadáver emprestado,

Nunca,

Nunca me pertencerá,

 

Habito neste planeta de enganos,

De estrelas mortas

E de mortas

Palavras,

Não,

Este cadáver não me pertence…

E terei de o devolver…

E terei de desenhar na minha mão

Um outro cadáver

Com um outro nome,

 

Habito,

Habito dentro deste pequeno círculo,

Que me rouba o sono,

Que não me dá fome…

Habito,

Habito dentro deste livro que escrevo em segredo,

Sem palavras,

Sem medo…

Apenas desenhando silêncios…

E rochedos,

 

Habito,

Habito dentro deste cadáver,

Que não me pertence,

Que nunca me pertenceu…

E sofro,

Muito…

Porque preciso de o devolver…

E não sei a quem pertence.

 

 

 

01/07/2023

Francisco

Relógio

 

A cada traço que acorda da minha mão

Há uma estrela que morre

Uma criança em fome

Um parvalhão de um rico

Rico

Que não se cansa de humilhar

Um silenciado pobre

Pobre,

 

A cada traço que acorda em mim

Há uma jangada de solidão

Um planeta maldisposto

Em ressaca

Há um segundo neste meu relógio sem dono

Que se mata

A cada traço

… nada,

 

Em cada traço de mim

Há uma auto-estrada

Onde na faixa da esquerda…

Circulam as palavras proibidas…

E na faixa da direita…

A cada traço

Nada,

 

Em cada traço de mim

Em mim

Desta mão

Um pequeno traço que se ergue

A lua com febre

De mim

Aquele traço

Naquele triste jardim,

 

A cada traço…

Que desta mão se ergue

E reza

Reza sem razão

As palavras proibidas

Que o poeta coitadinho…

Esconde

A cada traço de sua mão.

 

 

01/07/2023

Francisco