Desta selva
Encalhada entre o mar e a
terra
Desprovida de palavras
Actos
E pequenos nadas
Desta selva
A selva de salve-se quem
puder
O esperto ao quadrado
Até à equação diferencial
do imbecil
Nesta selva
Pacata
Parva
E senil
Desta selva de palavras
De pontes metálicas
Desta pequena selva
Encalhada entre o mar e a
terra
Actos
E de pequenos nadas
E os nadas são tudo
No meio das palavras
Dos actos
E do pecado
Da selva
Na selva habitada e
contente
Como as estrelas
Durante a noite…
De engate em engate
Depois
O apito
Partida de Cais do Sodré
Alcântara mar
Mais dois apitos
Dois pirolitos
E começa a festa
Na selva
Da selva de salve-se quem
puder
Os barcos tombam
embriagados
A noite
Coitada da noite…
A noite é tão bela
Tão bela
Por isso é fria
Escura
E tímida
E a selva cresce
Triplica
Tem filhos
Vão à escola
E nada…
A selva morre
E deixa todos os animais
tristes
Da selva
Belém envergonhada
Sentemo-nos então meus queridos
irmãos
E irmãs
E filhos de Deus…
Sentemo-nos sobre esta
sombra de giz
Junto ao Padrão dos
Descobrimentos
Ouviam-se as pulgas
Das pulgas que labutam
Que lutam
Que trabalham…
E se fodem quando chove
É a selva
A selva onde habitamos
Em betão
De cartão
Com porta de abrir à
direita
Com porta de abrir à
esquerda
E é selva
Com um rio em tesão de
sono
E pintura metalizada
Encostava-me ao muro da
selva
Fumava
Fumava enquanto num
pequeno caderninho…
Apontava os dias que se
tinham suicidado em mim…
E contei
E contei…
Eram muitos
São muitos
Dias
Que não conseguiram
aturar-me
E pimba
Mataram-se
No Bugio
Desta selva
Encalhada entre o mar e a
terra
Desprovida de palavras
Actos
E pequenos nadas
E muitas coisas
Chocolates
No Bugio
Pimba
E contei
E contei…
Luís
28/05/2023