segunda-feira, 1 de maio de 2023

Criança

 

(acrílico s/tela. 70cm x 100cm)

 

 

E de encanto em encanto,

Ao triste momento,

Quando o desalento…

Sem tempo, traz o vento…

 

E abraçado ao vento,

Esta pobre criança sem alimento,

Brinca, sonha e chora… quando esta criança em sofrimento

Se esconde nos teus olhos de encanto,

 

Quando esta pobre criança sem alento,

Acorda do sono em pensamento,

E de encanto em encanto…

Esta pobre criança… é a criança do momento.

 

 

 

Alijó, 01/05/2023

Francisco Luís Fontinha

Flores da Primavera

 E que o vento nunca leve o teu cabelo

E o teu sorriso,

E que o vento te abrace,

Em cada doce madrugada,

 

E que do vento venham as flores da Primavera

Que escrevem em teus lábios,

E desenham nos teus lábios…

A Primavera,

 

E que o vento habite em teus sonhos

Das manhãs depois de acordarem,

E que o vento seja justo, seja sincero…

E que o vento nunca deixe…

 

Nunca deixe de te amar.

E que o vento seja eu,

Esta pobre flor sem madrugada,

E que o vento…

 

E que o vento seja apenas o vento,

O vento sem mais nada.

E que o vento…

E que o vento se deite no teu ventre,

 

E que do vento, acorde mais vento…

Mais vento em cada doce madrugada.

E que o vento nunca leve o teu cabelo

E o teu sorriso, e que o vento te traga o sono da alvorada.

 

 

 

Alijó, 01/05/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 30 de abril de 2023

Doce madrugada

 


(acrílico s/tela. 60cm x 80cm)


Aprisiono cada pedacinho do teu sono,
Roubo a tua madrugada,
E escondo-a dentro do meu peito...

Longe de ti

 Antes de 9 de Maio de 1994

(ao meu grande amigo Dr. Luís Castelo Branco, aos meus pais, e a todos aqueles que não desistiram de mim)

 

 

Amava-te

Amava-te loucamente

Amava-te e desejava-te apaixonadamente,

Despia-te lentamente para que nenhum pedacinho do teu silêncio

Se perdesse no pavimento,

Deitava-te sobre o fino lençol de alumínio prata,

Depois…

Ai depois… meu amor…

Depois saboreava cada milímetro quadrado do teu corpo,

Às vezes,

Momentaneamente,

Adormecia…

Outras… outras parava de te manusear…

E olhava-te,

Desenhava o teu movimento pendular,

E pensava

(há quem diga que hoje não devia pensar tanto)

Pensava… pensava como deixar de te amar…

 

Outras vezes,

Algumas vezes,

Não adormecia momentaneamente…

Mas…, mas parava de te tocar,

Então…

Então deixava-te suspensa no lençol de alumínio prata, na minha mão esquerda,

Na minha mão direita,

O isqueiro…

E na boca o senhor Manuel Maria Barbosa du Bocage,

 forrado a alumínio prata,

E quanto mais eu pensava…

Mais eu te amava,

E depois olhava o teu cabelo ondulado em finas tranças de madrugada…

Em direcção à minha boca,

 

Amava-te

Amava-te loucamente

Amava-te e desejava-te apaixonadamente,

E tu… e tu dançavas minutos a fio

Sobre um lençol de alumínio prata,

Eu, quase sempre, indiferente ao ondulado teu corpo…

Via-te,

Via-te subir,

Via-te descer,

Tudo isso dentro de toda aquela luz nocturna,

E aos poucos,

Muito lentamente…

Começavas a desparecer,

Até que apenas um pedacinho de sémen em carvão ficava sobre o lençol de alumínio prata,

 

Deitava para o lixo o lençol,

Puxava de um cigarro…

Escrevia qualquer coisa num qualquer papel que estivesse sobre a secretária…

Ou na página de um qualquer livro…

E porra,

Já me apetecia novamente estar nos teus braços,

Beijar-te,

Saborear o teu cabelo ondulado…

Escrever nos teus lábios,

 

Deitava-me,

Deitava-me sabendo que o sono não regressaria…

Coitado do sono,

Coitado dele e de mim,

 

Começava a sentir um gélido lençol de geada sobre o meu corpo,

Às vezes, às vezes adormecia com o casaco vestido,

Imagina, meu amor, quando fosse Inverno,

Um verdadeiro inferno de dor,

Regressavam os vómitos,

Os calafrios…

E até diarreia…

Às vezes, febre…

Os meus ossos pareciam os ramos dos arbustos quando está vento…

E mesmo assim, ainda te amava… amava-te tanto…

E pensava como esquecer-te,

E pensava em mil e uma maneiras de te odiar…

Mas como podia eu na altura te odiar…

Como poderia eu odiar quem amava tanto…

E… ou continuava a amar-te loucamente e morrer nos teus braços,

Ou simplesmente te esquecer…

Fugir de ti,

Para sempre,

Para sempre e para longe;

E hoje, estou aqui… aqui para muito longe.

Longe de ti.

 

 

 

 

Alijó, 30/04/2023

Francisco Luís Fontinha

Mãe

(acrílico s/tela. 70cm x 100cm. Francisco Luís Fontinha – Alijó)

 

 

Procurava o silêncio no teu cabelo

(enquanto este não voou para o mar)

Procurava o silêncio nas tuas mãos enceradas

Pelas metáteses das madrugadas,

 

Procura nas estrelas

A tua voz cansada

Da tua voz em delírio

Enquanto eu rezava,

Sim, mãe

Enquanto eu rezava que partisses brevemente

Porque o silêncio que eu procurava

No teu cabelo…

Aos poucos…

Lentamente…

No inferno se transformava

(esse teu cabelo, mãe… que voou para o mar),

 

Procurava

Em ti…

O silêncio que me faltava,

Procurava…

Procurava…

Procurava no teu cabelo

As tardes em brincadeira

Quando jogávamos às escondidas

Ou…

Ou quando me construías papagaios em papel

Coloridos,

 

Procura no teu cabelo

As estrelas e o mar do Mussulo

Ou apenas…

O teu forte abraço,

 

E eu

Não me cansava,

Nunca me cansei de ti…

E de procurar…

No teu cabelo…

O silêncio

E o cheiro do mar,

 

Procurava no teu cabelo

As cidades perdidas da minha infância

O cheiro da terra queimada

Depois da chuva…

Ai o que eu procurava…

 

Procurava no teu cabelo

O medo da despedida

Sem que eu soubesse…

O significado de despedida

Mas eu não me cansava…

E procurava

Em ti

O silêncio que me faltava,

 

E sabes

Quão feliz fiquei

Quando me disseram…

(Quando a minha voz rouca

Das noites sem dormir…)

Do outro lado…

Me disseram que tinhas acabado de partir…

E confesso-te

Mãe…

Tão feliz que fiquei…

Tão feliz…

Todo o teu sofrimento…

Tinha-se vestido de saudade…

E eu…

Desenhei um sorriso do tamanho do Universo

E deixei de procurar.

 

 

 

Alijó, 30/04/2023

Francisco Luís Fontinha

Cidade

 

(quadro: acrílico s/tela – 60cm x 50cm – Francisco Luís Fontinha)

 

Que cidade é esta

Meu amor

Desta cidade onde te procuro…

Nesta cidade onde me sento,

Que cidade é esta

Meu amor

Nesta cidade de encanto

Nesta cidade desconhecida

Que quase sempre se esconde na madrugada.

 

Que cidade

Esta cidade

Meu amor,

Que cidade é esta

Meu amor

Desta cidade onde te procuro…

Enquanto o vento me leva…

Vagarosamente…

Para os teus braços.

 

 

 

30/04/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 29 de abril de 2023

O sono

 

O sono

Esse pequeno silêncio que a noite traz

Essa nuvem de espuma das amoreiras em flor,

O sono…”

 

Acrílico s/tela. 70cm x 100 cm. Francisco Luís Fontinha – Alijó