(acrílico s/tela. 70cm x
100cm. Francisco Luís Fontinha – Alijó)
Procurava o silêncio no
teu cabelo
(enquanto este não voou
para o mar)
Procurava o silêncio nas
tuas mãos enceradas
Pelas metáteses das
madrugadas,
Procura nas estrelas
A tua voz cansada
Da tua voz em delírio
Enquanto eu rezava,
Sim, mãe
Enquanto eu rezava que
partisses brevemente
Porque o silêncio que eu
procurava
No teu cabelo…
Aos poucos…
Lentamente…
No inferno se
transformava
(esse teu cabelo, mãe…
que voou para o mar),
Procurava
Em ti…
O silêncio que me
faltava,
Procurava…
Procurava…
Procurava no teu cabelo
As tardes em brincadeira
Quando jogávamos às
escondidas
Ou…
Ou quando me construías papagaios
em papel
Coloridos,
Procura no teu cabelo
As estrelas e o mar do
Mussulo
Ou apenas…
O teu forte abraço,
E eu
Não me cansava,
Nunca me cansei de ti…
E de procurar…
No teu cabelo…
O silêncio
E o cheiro do mar,
Procurava no teu cabelo
As cidades perdidas da
minha infância
O cheiro da terra
queimada
Depois da chuva…
Ai o que eu procurava…
Procurava no teu cabelo
O medo da despedida
Sem que eu soubesse…
O significado de
despedida
Mas eu não me cansava…
E procurava
Em ti
O silêncio que me
faltava,
E sabes
Quão feliz fiquei
Quando me disseram…
(Quando a minha voz rouca
Das noites sem dormir…)
Do outro lado…
Me disseram que tinhas
acabado de partir…
E confesso-te
Mãe…
Tão feliz que fiquei…
Tão feliz…
Todo o teu sofrimento…
Tinha-se vestido de
saudade…
E eu…
Desenhei um sorriso do
tamanho do Universo
E deixei de procurar.
Alijó, 30/04/2023
Francisco Luís Fontinha
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