domingo, 30 de abril de 2023

Mãe

(acrílico s/tela. 70cm x 100cm. Francisco Luís Fontinha – Alijó)

 

 

Procurava o silêncio no teu cabelo

(enquanto este não voou para o mar)

Procurava o silêncio nas tuas mãos enceradas

Pelas metáteses das madrugadas,

 

Procura nas estrelas

A tua voz cansada

Da tua voz em delírio

Enquanto eu rezava,

Sim, mãe

Enquanto eu rezava que partisses brevemente

Porque o silêncio que eu procurava

No teu cabelo…

Aos poucos…

Lentamente…

No inferno se transformava

(esse teu cabelo, mãe… que voou para o mar),

 

Procurava

Em ti…

O silêncio que me faltava,

Procurava…

Procurava…

Procurava no teu cabelo

As tardes em brincadeira

Quando jogávamos às escondidas

Ou…

Ou quando me construías papagaios em papel

Coloridos,

 

Procura no teu cabelo

As estrelas e o mar do Mussulo

Ou apenas…

O teu forte abraço,

 

E eu

Não me cansava,

Nunca me cansei de ti…

E de procurar…

No teu cabelo…

O silêncio

E o cheiro do mar,

 

Procurava no teu cabelo

As cidades perdidas da minha infância

O cheiro da terra queimada

Depois da chuva…

Ai o que eu procurava…

 

Procurava no teu cabelo

O medo da despedida

Sem que eu soubesse…

O significado de despedida

Mas eu não me cansava…

E procurava

Em ti

O silêncio que me faltava,

 

E sabes

Quão feliz fiquei

Quando me disseram…

(Quando a minha voz rouca

Das noites sem dormir…)

Do outro lado…

Me disseram que tinhas acabado de partir…

E confesso-te

Mãe…

Tão feliz que fiquei…

Tão feliz…

Todo o teu sofrimento…

Tinha-se vestido de saudade…

E eu…

Desenhei um sorriso do tamanho do Universo

E deixei de procurar.

 

 

 

Alijó, 30/04/2023

Francisco Luís Fontinha

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