segunda-feira, 10 de abril de 2023

Luz

 

Não me importo

Não me importava que o Universo se extinguisse

Não me importo

Não me importava que o Sol deixasse de sorrir

Ou sonhar

Não me importo

Não me importava

Que tudo isto deixasse de existir…

Desde que ficasses nos meus braços

Enquanto a noite não se extinguisse

Não me importava

Nem me importo…

Desde que os teus lábios de mel

Poisassem nos meus lábios

E os teus olhos sejam a luz dos meus dias.

 

 

Francisco

10/04/2023

domingo, 9 de abril de 2023

A flor da liberdade

 Habitamos dentro deste labirinto

Frio e escuro

Onde desenhamos no corpo o desejo

Quando escrevemos no corpo

Cada silêncio que a noite alicerça sobre o mar,

 

Habitamos dentro deste labirinto

Sem janelas

Com portas e frestas

Quando chega a nós

A louca Primavera,

 

Quando regressam a nós

Os gladíolos de uma noite em tórrida paixão

E quando dos teus doces beijos

A tua mão distrai-se na minha boca

Insígnia da madrugada,

 

E podia terminar a noite

E recomeçar outra noite

Habitamos dentro deste labirinto de noites

Que apenas o prazer e o silêncio

Sabem fotografar depois do luar adormecer,

 

E dos teus olhos

Quando acordam as primeiras lágrimas da manhã

E num sorriso de luz

Uma criança te oferece a flor mais bela que o silêncio pode cultivar;

A flor da liberdade. A flor de amar.

 

 

 

Alijó, 09/04/2023

Francisco Luís Fontinha

Mar da Tranquilidade

 Podia beijar o Universo

Podia beijar todas as estrelas do Universo

E todas as flores do Universo

No entanto

Não trocava os teus lábios de mel

Quando a madrugada se deita na Primavera

Não trocava os teus lábios em desejo mar

Por todos os beijos do universo

 

E no entanto

Podia beijar o Universo

Todas as estrelas do Universo

E Deus

Deus que numa noite em desejo…

Criou todo o Universo

Para eu beijar

 

Podia beijar o Universo

Podia beijar todos os mares do Universo

E todas as árvores do Universo

E todos os peixes do Universo

E todos

Todos os pássaros do Universo

No entanto

Não trocava beijar os teus seios

Janela da maternidade

Mar da Tranquilidade

Nas noites em luar

Por tudo aquilo que o Universo me dá

 

Podia beijar o Universo

E todas as equações do Universo

Podia beijar o sol e a lua

Podia beijar o silêncio

E a paixão

Podia beijar o Universo

Todas as estrelas do Universo

E todos os buracos negros do Universo

Podia beijar tudo isso

Podia

No entanto

Prefiro beijar cada milímetro do teu corpo

Cada centímetro quadrado da tua pele em perfeito delírio

Podia

Mas sabes

Meu amor

Quero lá saber do Universo…

E dos beijos do Universo

Quando tu

Tu és o meu Universo.

 

 

 

 

Alijó, 09/04/2023

Francisco Luís Fontinha

Das minhas palavras

 Beijo cada milímetro quadrado da tua pele

Nocturna manhã das alegres tempestades em desejo

Beijo o teu corpo

Beijo a tua mão

E da janela que nos abraça antes de adormecer

Ouvem-se as canções e todos os silêncios do prazer

Ouvem-se as madrugadas

Ouvem-se os teus gemidos

Quando toco nos teus seios…

E uma flor de sémen levita em direcção ao mar

E uma flor de sémen se perde nas minhas palavras.

 

 

 

Alijó, 09/04/2023

Francisco Luís Fontinha

Flor de sono

 Da flor de sono

Que brinca nos teus lábios

Oiço o silêncio da chuva

Quando poisam no teu peito

As minhas mãos

 

Quando desenho no teu peito

A primeira sílaba da manhã

Da flor de sono

Meu amor

Os teus lábios em peregrinação

 

Procurando o mar

O mar da minha mão

O mar que te escreve

Do mar…

No mar que me traz a noite

 

Da flor de sono

Meu amor

Quando pincelo os teus lábios de beijos

De palavras que vou escrevendo

No sorriso do vento

 

E percebo que o teu corpo é uma jangada em desejo

Que se esconde dentro de mim

Montanha das estrelas

Da flor de sono

Do sono… os gemidos da tua boca

 

 

 

Alijó, 09/04/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 8 de abril de 2023

Tempo de te amar

 Não tenho tempo

Nem pressa que regresse o tempo

Não tenho pressa do tempo

Tão pouco que as palavras do tempo

Morram nas mãos do vento

Sem tempo.

 

Não tenho pressa

Nem tempo antes da pressa

Que no poema nasça e cresça

O delírio da loucura

Que entre tempos

O de ontem

E o de amanhã

Me venham dizer

Olhe… desculpe…

Não tivemos tempo

Não tenha o senhor pressa!

 

E se o tempo me convidar

Se eu tiver tempo

E não tiver pressa…

Talvez

Talvez amanhã consiga respirar

Talvez amanhã eu tenha tempo

Todo o tempo

O tempo de te amar.

 

 

Francisco

08/04/2023

Pobre menino

 Podia ser ontem

Enquanto as tuas mãos inchavam no sorriso da ausência

Das pobres janelas

E das portas

De todos os montes e vales

De todas as pedras

Em todas as árvores

Quando nem todos os pássaros

E podia ser ontem

Enquanto as tuas mãos mergulhavam nos lábios da geada

Entre vinhedos

Dos tristes milagres de Deus.

 

Acorrentado a este rio

De doirado silêncio

Quando descem sobre mim as nuvens tempestuosas

Que transportam o sangue derramado das tuas veias

Quando ainda ontem

As tuas mãos mergulhavam nas estrelas da noite

Embriaguez dos distantes carrosséis entre linhas

Dispersas sobre o mar.

 

Podia ser ontem

Mas ontem era dia de descanso

O derradeiro repouso

Quando pegas no último vinho

E o bebes

Veneno

Passaporte para o lunar destino.

 

E pobre

Este pobre menino

De poeta enforcado

A trapezista aposentado

Tão pobre

Tão…

Amado?

Quando ainda ontem

As tuas mãos eram límpidas como a Primavera

Como os gladíolos

Como as palavras quando se soltam dos lábios

Ressequidos

Mergulhados no ontem

Quando se fosse ontem…

Hoje

Tão pobre

De destino

Este pobre menino.

 

Podia ser ontem

E a ausência continuava na gabardine da insónia

Podia

E se fosse ontem

Uma chuva de lágrimas deixava sobre ti o silêncio

Quando ontem seria pouco

E de pouco em pouco

Aos teus lábios regressam as sanzalas

E os mabecos que ainda ontem

Brincavam junto a mim

Quando ainda ontem…

Desenhávamos canções no vento…

E corações na areia fina do Mussulo.

 

Podia ser ontem.

Não o foi porque dizem que a sexta-feira é dia de azar

Que todas as sextas-feiras um cadáver de sono

Acorda junto ao jardim

E ainda ontem andava por aí…

Em pequenas brincadeiras

Entre pequenos soluços

Quando ainda ontem

Das suas mãos

Recebia as palavras semeadas durante a noite.

 

E que seja hoje

E que seja amanhã

Porque não sendo ontem

Também não importa

Se foi ontem

Se poderá ser hoje

Ou qualquer dia

Mas se tivesse sido ontem…

Certamente levaria nas mãos toda a minha poesia.

 

 

 

Francisco

08/04/2023