quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Um palco e cinco milhões

 


Quanto à construção do palco para as JMJ, apenas lamento que sejam os contribuintes a pagar.

Ao que parece, a organização solicitou que o referido palco tivesse a capacidade para 2.000 pessoas.

Sendo Portugal um estado laico, e pertencendo o evento à igreja Católica, deveria ser esta a pagar.

Não tenho religião nem tenho nada contra as religiões. Cada um é livre de acreditar no que quer e bem entende.

Mas quando nos dizem que não há dinheiro para a educação, para a saúde, justiça… é uma afronta gastar-se quase 5.000.000€.

Depois vêm com o discurso que servirá para outros eventos; talvez como servem os estádios de futebol construídos para o Euro e que estão fechados e sem manutenção, e alguns deles, elefantes brancos para as autarquias onde foram edificados.

O País não tem dinheiro para umas coisas, mas para outras, o dinheiro sempre aparece…

Precise um banco de dinheiro!

Paixão das máquinas

 Das engrenagens da vida,

As correntes,

Correias,

Parafusos de pressão,

 

Esta mão,

Nesta pequena mão,

 

Rolamentos apaixonados,

Casquilhos,

Vedantes,

Meu Deus…

 

Transmissões,

Quando do vento,

Recebo do teu olhar,

O sol,

A paixão,

 

Tudo isto eu sinto,

De tudo isto me alimento,

Óleos,

Rodas dentadas,

Enquanto no teu sorriso…

Do teu olhar…

Vêm a mim as alegres madrugadas.

 

 

 

 

Alijó, 26/01/2023

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Os lírios do teu olhar

 

No lírio cansado do teu olhar

Partem-se as amarras da paixão,

Desejas sem o desejar,

Desejar um barco no mar,

Do mar teu coração,

 

No lírio desejo dos teus doces lábios de mel,

Quando acorda a manhã ensonada…

Escrevo, desenho… invento palavras neste pobre papel,

Quando a insónia se despede da madrugada,

 

No lírio cansado do teu olhar

Há palavras de escrever,

Há palavras de beijar…

E há sonhos de encantar.

 

 

Alijó, 25/01/2023

Francisco Luís Fontinha

O jardim dos teus lábios

 

Rega o teu jardim

Com as lágrimas dos teus lábios,

Beija as flores do teu jardim

Com o sorriso do teu olhar,

Abraça as flores do teu jardim

Com o perfume do teu cabelo,

 

Abre a janela do teu peito

E deixa entrar o mar;

O mar dos teus lábios…

 

 

Alijó, 25/01/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 24 de janeiro de 2023


 Há prendas de aniversário que nunca se esquecem.

Doces lábios de mel

Desejo-te e abraço-me aos teus doces lábios de mel, no teu peito, procuro a manhã que o silêncio da noite deixou ficar nas amarras do destino, foges-me durante o sono, em pequenos pesadelos que as estrelas beijam, nesta pobre cidade, com o rio nas suas mãos, onde circula livremente a paixão.

Escrevo,

Cartas sem destinatário na ânsia que dos teus doces lábios de mel acordem as palavras envenenadas, nas palavras em desejo, quando o mar te abraça e ao meu ouvido regressa o sussurro ciciar dos gemidos em luar.

Um grito, dentro de mim.

Olho-te e confundo-te com a lua; há nesta pirâmide em desejo as primeiras lágrimas da madrugada, lágrimas que aos poucos se vestem de sol, e a alegria grita no meu destino.

Desejo-te e abraço-me,

Canções que me cantavas e eu trocava o sono por pensamentos, canções de menino, quando uma criança poisa nas abelhas em flor, e tudo isto, numa simples carta, sem destino, remetente, cidade ou País,

Tanto faz,

Um dia voarei na lâminas cinzentas das sanzalas sombreadas pelo fogo do desejo, gemes, oiço-te na penumbra noite dos musseques há muito assassinados por um papagaio em papel, amarras entre ossos e pedaços de silêncio, quando a carta que escrevo, sem destinatário, sem remetente, se abre ao acordar da noite.

A noite deixou de me pertencer.

A noite pertence às lágrimas de uma criança; tão triste, quando nos olhos de uma criança brincam lágrimas em papel flor.

Tão triste, quando no rosto de uma criança habitam lágrimas de fome, quando na peste das palavras, de quase todas as palavras, uma criança tem no rosto as tristes manhãs de Inverno.

As viagens intermináveis do espelho sonolento que a paixão constrói nos olhos do mar, e dos teus doces lábios de mel, sinto o frio areal que os teus cabelos semeiam, semeiam em mim o desejo de voar,

Neste fogo de suspiros que se encostam aos umbrais da ferrugem tarde, vejo o meu barco em cartolina, em pequenos círculos de sono, quando a noite nos leva, sobem até às nuvens coloridas de um coração,

Um pequeno crepúsculo, que se esconde nos teus olhos.

E os teus doces lábios de mel deixaram de pertencer à noite; agora, são os meus doces lábios de mel.

Trago na mão o sol, trago na mão a espada com que vou cortar a tristeza e a solidão, até que um dia, um dia…

Dos teus doces lábios de mel,

Uma criança,

Desenhe na terra o sorriso da lua.

Pensava eu, enquanto dormia abraçado aos teus doces lábios de mel.

 

 

 

Alijó, 24/01/2024

Francisco Luís Fontinha

(ficção)

Asas salgadas

 O mar levou-lhe a tempestade

Dos dias mergulhados nas marés de insónia,

Todos os peixes,

Todos os pássaros,

Erguem-se nas mãos de Deus,

 

E há um sorriso desenhado

Sobre o fim de tarde

Junto à sombra do menino dos calções,

O mar levou-lhe a tempestade,

E da janela

 

Fogem as flores do jardim nocturno da solidão,

O mar levou-lhe a tempestade

E a solidão dos dias,

E hoje o mar é um cemitério

De sombras,

 

Depois,

No espelho da ausência,

Um gesto de carinho abraça-o,

Toca-lhe o rosto

E da voz acordaram as lindas tardes de Primavera;

 

São lindas as estrelas em papel

Suspensas no tecto de uma alcofa,

O menino dos calções, hoje, sorri… brinca,

E aos poucos semeia na terra

As palavras em pedaços de silêncio, enquanto não acorda o novo dia.

 

 

 

 

 

Alijó, 24/01/2023

Francisco Luís Fontinha