terça-feira, 7 de junho de 2016

Velas ao alto… mar adentro


Recolher a âncora e zarpar até ao infinito

Enrolar os cordéis do sono na alvorada

Velas ao alto… mar adentro.

 

A noite insemina-se nas mãos do marinheiro de pano

Descem as estrelas até aos rochedos da dor

Como espadas afiadas no peito do mordomo…

E sua ama

A dona do Palácio de papelão…

Expressa a ordem de condenação

Do triste sem-abrigo

A morte atormenta-o

E entranha-se-lhe nos ossos

O cansaço diurno dos espelhos cinzentos

Nas paredes de vidro

Que o palácio absorve antes de adormecer.

 

Amanhã este barco estará morto

Fundeado na tua mão como uma pedra de arremesso…

Velas ao alto… mar adentro.

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 7 de Junho de 2016

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Os sonâmbulos


Amanhã não estarei nos teus braços

Amanhã vou ser um sonâmbulo invisível

Passeando no jardim dos pecados

O meu corpo transformar-se-á em gaivota

Coisa pouca para os tempos que correm

Poderia ser um avião

Sem motor

Ou um barco sem quilha…

Com uma bandeira colorida

Amanhã não estarei nas tuas palavras

Que incendeias antes de eu acordar

O dia terminará com a minha ausência

E o destino adormecerá nas clarabóias do sofrimento

Levante-se o Réu…

E eu

Eu levanto-me dos teus braços

Escrevo o meu nome na parede da saudade…

E vou esperar pela sentença

Como um condenado ao prazer

Antes de adormecer…

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 6 de Junho de 2016

sábado, 4 de junho de 2016

todas as noites


todas as noites

entre segundos de espera e minutos de silêncio

o derradeiro sofrimento do relógio de pulso

sem tempo

imenso longínquo abstracto do corpo submerso no vazio

a alma desesperada suspensa num cabide de prata

e nas mãos sangrentas poisa o amor…

todas as noites

ossos em fotografias esquecidas no sótão da saudade

todas as noites

perdido na idade

a palpitação sonolenta do cansaço

quando os astros se sobrepõem aos anéis geométricos do beijo

infinito secreto amar

que deambula nas metáforas da montanha desesperada

pela infinita solidão

o sentir não tocando a tua mão

todas as noites

vagabundas auréolas de açúcar

sobrevoando o teu sorriso…

no pulso

um relógio enlouquecido pela tempestade das palavras

todas as noites

o medo

a palavra da palavra

brincando num caderno de nata…

e todas as noites

a lata

o zinco telhado da casa húmida

no triciclo de chapa…

morre lentamente

sufoca na janela sem vista para o mar

todas as noites

os barcos na algibeira da vaidade

prisioneiros do meu perfume

entre segundos de espera e minutos de silêncio

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 4 de Junho de 2016

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Sou tão feliz… sou tão feliz meu amor…


Sem tempo. Morro acreditando na serpente do movimento,

Que invade o silêncio do corpo.

Esqueço-me de mim,

Esqueço-me de ti…

E das tardes junto ao rio,

Sou o profeta do abismo,

O cansaço da tristeza…

Sem tempo.

Sem tempo alicerço-me à tua mão

Regressando de um outro poema não escrito por mim,

A tarde rompe a poeira do teu olhar,

Poisa cuidadosamente no teu peito…

E eu,

E eu fico sem saber se amanhã haverá estrelas no teu sorriso,

Porque o Universo cessa de chorar,

E dentro de ti,

Profundamente no poço da amargura,

As lágrimas do mar.

Cerro os olhos e finjo a morte do poeta sem ninguém…

Aflito enquanto a noite se aconchega na parede do amor,

Como uma tela aprisionada à manhã sem nome.

O eco dos teus anseios perfilados na escuridão,

Uma palavra em transe,

Senta-se no limite da paixão…

Sou tão feliz… sou tão feliz meu amor…

 

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 2 de Junho de 2016

Apresentação da obra poética de Francisco Luís Fontinha





Ao Município de Alijó.
À Professora Clara.
Biblioteca Municipal de Alijó e toda a sua equipa.
Aos presentes e aos ausentes; os amigos. (AL Berto)
 
Obrigado a todos.
 
Francisco




quarta-feira, 1 de junho de 2016

o ausentado


a metrópole sofre

chora e engana

todos aqueles que partem

a gente acostuma-se à ausência do corpo

na neblina incendiada pela escuridão

um vulto de luz…

caminha na minha direcção

pergunta-me pelo ausentado

o coitado

que partiu…

que partiu sem deixar rasto

ou migalhas no silêncio

e eu

preocupado

respondo-lhe…

não sei do coitado

ausentado

mas sei que ele partiu

numa noite embriagada de palavras

ruídos alguns…

e a madrugada sem a ver

a metrópole sofre

chora e engana

resigna-se apenas a um simples bilhete abandonado na porta de entrada

esqueço-me

perco-me

e eu

preocupado

sangrando sílabas

porque um dia

o coitado

do ausentado

partiu… e nunca mais foi encontrado

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 1 de Junho de 2016