domingo, 13 de setembro de 2015

Beijos de pergaminho solar



(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Escondo nas tuas pálpebras o meu beijo de pergaminho solar,
Acendo o dia ligando o interruptor do sonho,
Danço sobre ti inventado cubos negros, sem porta de entrada,
Sem janelas…
Sem madrugada,
Escrevo-te sabendo que estás morta,
Que caminhas sobre a areia luminosa da manhã,
Que me abraças sabendo eu que nunca me abraçaste,
Olhaste…
Ou.. ou me hipnotizaste entre quatro cadeiras velhas em madeira,
Estou aqui, eu e eu, dois cadáveres sem rumo,
Apaixonados pelo silêncio,
Escondo nas tuas pálpebras a minha língua que acaricia a tua solidão,
Não tenhas medo, meu beijo de pergaminho solar…
Não tenhas medo da cidade, dos homens da cidade, e das sombras da cidade,
Imagino-te subindo a montanha do desejo,
Trazes em ti o medo de amar,
Transportas as tulipas em papel que nos esperam num quarto de pensão,
Poisa-las sobre a mesa-de-cabeceira,
Olhas-me,
Sentas-te na cama…
E beijas-me como se eu fosse uma sílaba embriagada descendo uma qualquer calçada,
Amanhã, amanhã meu beijo de pergaminho solar,
Amanhã estaremos sentados nos rochedos dos Oceanos prateados,
Tão velhos, meu beijo de pergaminho solar, tão velhos que adormecemos como dois pássaros, sem idade, como dois pássaros entranhados no luar,
Amanhã, amanhã olhas-me,
Dizes que não me conheces,
Que eu sou um desenho louco,
Um palhaço sem Pátria,
Como sem Pátria são todos os beijos de pergaminho solar…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Setembro de 2015
 


sábado, 12 de setembro de 2015


Francisco Luís Fontinha - Setembro/2015

Os cigarros “fodidos”…


(Francisco Luis Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Há uma invisível incógnita
Na equação da paixão,
Um silenciado olhar enforcado na minha boca,
O luar saciando-se nos meus lábios…
E tu… e tu gritando como uma louca,
 
Dessa maldita equação
Sobejaram as lâmpadas ofuscadas pelo cansaço,
Um brilho de noite agachada na calçada,
O homem da bangala tropeçando no abismo
Que acorrenta a madrugada,
 
Há uma invisível incógnita
Na minha desalojada mão,
Os ossos apodrecidos,
Em pó…
Em busca dos poemas mendigos,
 
Os amigos,
Ausentes deste papel quadriculado em brasa,
Os cigarros “fodidos”…
No cinzeiro roubado na Feira da Ladra,
E uma vez mais… em busca dos poemas mendigos,
 
Rasgados ventres nas amoreiras em flor,
Sabotando o corpo nas cordas do sofrimento,
Há uma invisível incógnita na equação da paixão…
Morta,
Alicerçada no meu coração.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 11 de Setembro de 2015
 


quinta-feira, 10 de setembro de 2015


Francisco Luís Fontinha - Setembro/2015

Espelho


(“Espelho” desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
A luz laminada da paixão
Quando desce os círculos do meu peito,
Perfura-me com as cinzentas palavras do “espelho” ensanguentado na loucura,
Silencio-me aos teus pés,
Sento-me nos teus braços,
Adormeço no teu olhar,
Vivo desenfreadamente com esta corda-de-mar prisioneira na minha garganta,
Sou sempre eu,
Aquele que habita esta rede de ossos camuflados pelo nevoeiro da manhã,
Aquele que esconde na boca as gaivotas das tristes marés de Inverno,
Sou sempre eu,
Aquele que escreve poemas no som da fogueira da saudade…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 10 de Setembro de 2015