domingo, 15 de fevereiro de 2015

A viagem sem regresso

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Perdi-me nas aldeias incendiadas do prazer,
desassossegadamente, o teu corpo entrelaçado nos meus braços de xisto,
descendo cada socalco meu,
entre nós... o rio
e a saudade dos Sábados folheando livros,
e beijos,
perdi-me nas aldeias incendiadas do prazer
como se fosse um pássaro sem Pátria,
fugindo da lentidão das coisas belas,
os cigarros em tristes sorrisos de esferovite...
boiando como um carnívoro na liberdade das palavras,
com sotaque a náufrago envelhecido,

Sinto no corpo,
as garras e os fios de luz da loucura,
as cabeleiras falsas voando nos meus ombros
em chocolate embriagado,
os teus lábios pincelados de amanhecer...
e todas as janelas encerradas,
dentro de um caixote em madeira,
tarecos, miudezas e esqueletos de vinil,
a viagem sem regresso,
quando os seios da noite
mergulham nos alpendres floridos
e tu... junto à lareira da paixão,

Um livro,
Embrulham-se em nós as personagens da escuridão,
da tua mão
sinto
em pequeníssimas fatias de luar
a saudade e o perigoso feitiço do amor,
o livro saltita em nós,
come-nos e acende todas as lanternas do ciume...
não venhas, hoje, meu amor,
um livro,
e embrulham-se
em nós as lâminas da poesia...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


As tristes viagens ao cacimbo da infância, o sombreado rosto no pavimento térreo e sem nome, as mangueiras no retrato do meu avô, de machimbombo na mão, abria-se o portão de entrada, um beijo, infinitos abraços... e o sentar numa cadeira de vime,
O cansaço disfarçado de saudade, a tela do silêncio em pequenos suspiros de amor, o sexo mergulhado nas frestas do passado, a morte e a loucura, e uma equação irresolúvel, menstruada nas sílabas da madrugada, não sei o significado desta noite,
Faltam-me as palavras,
E os desenhos,
Faltam-me as palavras certas para a tua boca de verniz, e quanto aos desenhos
Uma porcaria,
Sem nexo, abstractos como o teu sorriso, e tristes como o final da tarde junto ao rio, O Tejo embriagado nos meus lábios, os esqueletos de palha ardendo na maré, e uma porcaria
Os meus desenhos?
E tu,
Uma porcaria como todas as porcarias da minha vida,
E tu,
A “Divina Comédia”...
Entre as minhas pálpebras de arroz,


Francisco Luís Fontinha . Alijó
Domingo, 15 de Fevereiro de 2015


sábado, 14 de fevereiro de 2015

Cidade maldita

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Há uma jangada salival adormecida no teu peito, meu amor,
tens no olhar os desenhos nocturnos da tempestade
e a sinfonia das palavras embriagadas nos teus pulsos,
os beijos de incenso suspensos nas estrelas da paixão,
o teu corpo de luz
na escuridão da proibição,
amar,
amar o luar quando sinto a falta das tuas mãos...
simplesmente sós
e transparentes,
como os vidros do desejo,
nas sílabas da montanha abraçada pela loucura,

Não posso desenhar os teus seios
nos pavimentos clandestinos da cidade,
não consigo imaginar-te vestida de marinheiro...
como pertencem os retratos dos crocodilos de papel,
nem as plumas da inocência,
há uma jangada de silêncio...
entranhada no teu púbis cristalino
na água inseminada pelo beijo,
e na tua boca as flores da madrugada
acorrentadas às janelas do destino...
cidade maldita esta
onde habitam os teus ossos em poeira...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Fevereiro de 2015


O xadrez do amor

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O náufrago dos silêncios em glória
os braços da tempestade no seu olhar
as canções dos infortúnios socalcos da solidão
poisadas nas mãos do amanhecer
e ele
a chorar
descendo até ao rio
sempre...
sempre a correr
os barcos galgando os corações de areia
e escrevendo no pavimento lamacento
o teu nome
o teu poema...
o náufrago poeta dos lábios incinerados
sentado num banco de jardim
à tua espera
e no teu peito há uma esfera
de néon insónia
perdida na cidade...
um cigarro
e uma ausência
o cerrar das portas de entrada
sem... sem esperança
que renasça o beijo...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Fevereiro de 2015


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Navegas na morte, habitam em ti as saudades da partida, o regresso sem saída, absorto, infinitesimal adormecido numa lápide de sonho, partimos, chegamos, o frio entranhou-se-nos nos ossos, esquecemos as palavras, e todos os momentos, a loucura imaginária dos vinhedos escrevia nos rochedos... o xisto disfarçado de “Alimento para Cães”, as ruas inúteis, fúteis, onde ”putas e drogados” dormiam para fugirem ao vicio, a emigração dos corações de areia, a sedução, o prazer quando o teu corpo balançava na alegria, o sótão vazio, o telhado encravado nas ombreiras da paixão,
Amo-te, escreve ela todos os dias no espelho embaciado,
Amas-me?
O que é o amor, meu amor...
Palavras, poemas, poetas... & mortos sem cabeça, Amas-me? O que é o amor, meu amor...
Pedra, madeira...ou papel quadriculado,
Oiço
“Foda-se o amor”
E...
Tão belo como as sandálias da infância... sonhadoras,


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2015

Triangulares sorrisos...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O teu corpo impregnado de silêncios
camuflados pela gelatinosa alegria das palavras
o teu corpo amortecido nos lençóis da desgraça
e do infortúnio nocturno das clarabóias em delírio
existe uma imagem invisível
passeando sobre o teu peito desnudo
fixo
o crucifixo da solidão
entre quatro paredes verdes
e uma janela em chamas
que só o mar consegue adormecer
em dias de Verão,

Há melancolia
e pedaços de saudade
ruas travestidas de prostitutas sem nome
amorosas
afáveis
de flor na lapela...
o perfume intenso a sexo que só uma carta sem remetente sabe desenhar
nas sombras do rio
o teu corpo majorado pelos ventos da insónia
e do espelho da morte
o majestoso orgasmo
absorvido pela tempestade dos triangulares sorrisos...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2015