quinta-feira, 8 de março de 2012

Gaivota poema

Oiço-te na finíssima noite de inverno
Agachada na solidão transversal do néon doente
Oiço-te da janela invisível do sótão
Entre fendas e gemidos de orvalho
Oiço-te quando puxo de um cigarro
E sinto o meu corpo misturar-se no fumo
As minhas mãos começam a emagrecer
Como o papel de parede
Como o livro mergulhado na insónia
E pergunto-me Que fazer?
Quando as palavras que oiço
São como a água de um rio
Que apressadamente corre para o mar…
Oiço-te no cansaço dos sonhos
E barcos travestidos dançam sobre uma mesa
Em Cais de Sodré
Olé
Pois é
Oiço-te suspensa no teto
E da claraboia do sono
Desces até mim

(Oiço-te na finíssima noite de inverno
Agachada na solidão transversal do néon doente
Oiço-te da janela invisível do sótão
Entre fendas e gemidos de orvalho)

E da claraboia do sono
Adormeces flor selvagem
Abelha que poisa no fumo do meu cigarro
E se alimenta dos meus lábios
Oiço-te… Oiço-te dentro do meu peito
Gaivota poema
Na minha cama
Em chama

Oiço-te na finíssima noite de inverno

42 x 29,7 – Francisco Luís Fontinha

Gaivotas sem sorriso

Vêm até mim
As silabas as vogais e as tristezas da noite
Embrulhadas nas palavras adormecidas
Vêm até mim
As gaivotas sem sorriso
Sem asas
Sem sonhos de caminhar sobre a areia molhada da tarde
Sento-me e finjo-me de morto
Não respiro
Não sonho
E sei que à minha volta gotas de silício se desprendem das árvores
E todas as folhas
E todos os ramos
Vêm até mim
E me abraçam
E me levam para o infinito

29,7 x 42 – Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 7 de março de 2012


29,7 x 42 – Francisco Luís Fontinha

42 x 29,7 – Francisco Luís Fontinha

A solidão das árvores

Os meus olhos
Veem as pedras engasgadas na solidão das árvores

Há barcos prisioneiros em mim
À procura de vento
Há barcos de papel e cetim
Há barcos em sofrimento

E há um corpo
(Os meus olhos
Veem as pedras engasgadas na solidão das árvores)
O meu corpo
Em busca de alimento