terça-feira, 30 de junho de 2015

Caixão da pedreira


Este ruído constante nas minhas veias,

Sinto no peito os socalcos embrulhados pelo xisto do cansado anoitecer,

É escuro, sempre, em mim,

Habito neste cubículo de sombra,

Sem janelas para o mar,

Sem porta para os teus lábios,

Amanhã, não sei se vou ver os barcos da madrugada,

Não sei se amanhã há madrugada,

Não sei se amanhã há barcos,

Vento,

Silêncio para me esconder…

Ou palavras para semear em ti,

Um aquário de paixão termina a viagem,

Não traz bagagem,

Recordações,

Fotografias…

Nada,

Os cigarros misturados na tempestade,

Nunca sei quando são cigarros,

Nunca sei quando é tempestade,

Nada,

Nada quero desta cidade.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 30 de Junho de 2015

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O túmulo…


Sonhei com o meu túmulo,

Vi uma lápide embrulhada nas tuas lágrimas,

Recordei os entrelaçados dedos de Primavera

Nas arcadas magoadas do vento,

Não sabia que existiam nos teus lábios,

Poemas,

Amor,

Desejo vestido de paixão,

Mergulhava no teu corpo,

Transformava-me em espada,

Atingia-te o coração,

Encerrava-o,

Tinha-o em mim como se fosse a minha sombra,

Ténue,

Tão magra como as fotografias envergonhadas,

Não o sabia,

Vi,

Crescia,

Mentia…

Nunca te amei,

Apenas sentia o que via…

E nada via,

Sonhei com o meu túmulo,

Estava enfeitado com o pôr-do-sol,

Mergulhava,

E mentia…

Que te amava,

Nunca amei ninguém,

Amo as pedras

E as palmeiras da minha terra,

Amo as palavras do teu olhar,

Depois da partida do último comboio…

O mar,

Dentro do teu coração,

Um amontoado de ossos brincando com a poeira madrugada,

O meu corpo em cio,

Deitado ao teu lado,

E mais nada.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 29 de Junho de 2015

domingo, 28 de junho de 2015

O amor…


O amor é um gajo abstracto,

Obscuro,

Transacto,

O amor é um gajo sem alma,

Cansado de mim,

Vestido de noite,

Vestido de ninguém,

Só… só neste jardim,

 

Tínhamos nos lábios o salgado mar da paixão,

Dizias-me que era preciso acreditar,

Ter fé,

Esperança,

 

Não acredito,

Não tenho esperança…

E odeio a fé,

 

Sou um esqueleto de chumbo,

Uma palavra acorrentada ao poço da solidão,

Tínhamos nos lábios

A cidade dentro da bagagem,

No espelho sentia-te entre películas de água

E algas em suicídio,

 

Esqueci-me de ti…

 

Como me esqueço de todas as coisas belas,

 

Claro que tu não eras uma “coisa”,

Eras poesia caminhando em frente ao Tejo,

Tínhamos todas as estrelas do céu,

Davas-me a mão,

Ficava cego,

Sem nome,

Sem endereço…

E acreditava,

Tu mandavas,

E eu,

Eu acreditava,

E me afogava no teu corpo…

 

Hoje sou um cadáver envergonhado na noite,

Uma âncora de desejo mergulhado nas pálpebras do infinito,

Sou uma recta,

Um círculo,

Um triângulo…

Sou um hipercubo suado na madrugada,

Sou lonca geometria,

Na amada,

Na amada mestria,

Abro a boca e silencio-te com a minha língua,

Roubo-te a alma,

E fujo para os teus braços…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 28 de Junho de 2015

sábado, 27 de junho de 2015

Livros do Inferno


Não esperes por mim,

Hoje,

Não,

 

Não desenhava a felicidade no teu corpo,

Não,

Não sei como é a felicidade,

Não,

Não sei desenhar,

E no teu corpo…

Sem coragem de amar,

Não,

 

Não esperes por mim,

 

Não grites no meu olhar de água embriagada, imaginado por duas montanhas de esquecimento,

Dois seios separados por dois muros de desejo,

Cai a noite no espelho da tua voz,

Imagino-me na tua boca gritando…

AMO-TE,

Não esperes por mim,

 

Hoje,

Na noite,

As cancelas da alegria argamassadas na literatura da loucura,

Habito numa cidade de inveja,

Habito nos teus braços

Como habitam nos teus braços,

 

As sabáticas manhãs de Inverno,

 

E os apaixonados livros do Inferno…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 27 de Junho de 2015

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A saudade


Deixei de pertencer aos retractos nocturnos do abismo,

Sou uma sombra aprisionada neste longínquo porto sem amarras,

À deriva,

Procuro o vento laminado das tardes de Luanda,

Não ando,

Não amo,

Não… não sei o nome da imagem que acordou neste espelho envelhecido,

Não entendo os Oceanos de insónia que brincam nos meus ombros,

Deixei de ter ossos,

Deixei de pertencer…

E do abismo

Uma flor encardida voando sobre as palmeiras,

 

Uma mão de solidão

Encalhada no meu olhar,

E onde estão as tuas palavras?

Amargas,

Cansadas das viagens ao Planeta da escuridão,

Asas em chamas,

Crocodilos em vão…

Sem janelas no sótão,

Sento-me nas escadas,

Pego levemente num cigarro inventado pelos teus lábios,

E canto,

E choro…

 

A saudade.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 26 de Junho de 2015