Em destaque – Sapo Angola.
sábado, 11 de maio de 2013
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Eu sou um pássaro que poisa hoje aqui, e amanhã, não tem onde poisar
foto: A&M ART and Photos
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Pouco ou nada nos pertencia, e a lua, que eu sempre
tinha ouvido dos vizinhos ser pertença do senhor nocturno com olhos
penteados como bicos de papagaio subindo o céu, e de um simples
cordel, suspendia-me como débil que eu era, não às árvores do
quintal, mas a um enferrujado portão de entrada, eu sentava-me, eu
poisava os cotovelos, eu imaginava das grades crescerem leões e
jibóias... que histórias ouvia, sem que tenha algum dia visto,
sentindo ou olhando, uma, duas, três... e a única cobra que
realmente apareceu na minha vida, essa, chamava-se Etelvina, tinha
calafrios quando lhe tocava e ressonava durante a noite, não como
porcos, porque esses ainda conseguem ser mais silenciosos do que ela
realmente o era, mas coitada, falecida, partiu para longe, e dos
mortos, em alguns mortos, eu, não, falo...
só falo na presença do meu advogado, queixava o
cigano marreco acusado de malabarismos dentro de uma velha tenda onde
vendia, CD'S pirateados, cuecas a cinco euros, digamos doze pares, e
não esquecendo telemóveis com chamadas grátis para todas as redes,
incluindo a rede presidiária onde iria permanecer os próximos seis
meses de vida, ele, não via as coisas por esse prisma e considerava
a prisão como uma reciclagem, aperfeiçoamento dos infinitos
malabarismos da sua longa carreira,
Fantástico, para
só eu, pouco, ou, pouco ou nada, sobejava do teu
peito ofegante, como o pensávamos quando abríamos a janela do
quarto, e bem lá longe, talvez do outro lado do silêncio,
ouviam-se-lhes os gritos de revolta das ondas ensanguentadas pela
velha e nojenta espuma vómito dos caracóis de corrida, sempre em
luta contra as semanas de ausência do senhor nocturno com olhos
penteados como bicos de papagaio subindo o céu, e eu, claro,
confesso, gostava dele
Fantástico, para a próxima vendo-te um avião em
peças, é só encomendares e marcarmos o local de entrega, e eu
completamente embriagado pelos olhos da Etelvina perguntava-me –
Para que raio preciso eu de um avião? - assinei o contrato sem o
saber, e em primeiro, as letras de tão pequeninas, recordavam-me os
ordenados de muitos desgraçados deste País, tão pequenos, tão
pequenos... que nem com uma lupa se conseguem ver
é tal e qual como as coxas da Etelvina,
Depois a minha embriaguez, combinada com uma certa
dose de gaguez, e daqui a pouco, com os guez... esqueço-me da
promessa da menina Etelvina, eu caso, senhor nocturno com olhos
penteados como bicos de papagaio subindo o céu, mas primeiro tem de
dar aquilo que me prometeu, e como diz a palavra, Prometeu nunca
prometeu nada, absolutamente nada, e a minha gaguez pertencia já a
um fundo imobiliário, rentável a tal ponto, que repentinamente
vi-me com dinheiro suficiente para comprar o que tinha prometido à
menina Etelvina e ainda sobejaram algumas moedas, em caso de dita
guez... voltar, regressar a mim e entranhar-se-me nos ossos ditos
pertencerem ao meu esqueleto, a dúvida persiste, porque neste
momento, ninguém
nem eu consigo determinar o que pertence a quem e o
quê,
E ninguém acredita que eu tenha realmente adquirido
o dito avião, mas a verdade é que sim, só não o adquiri como
dorme sobre o meu guarda-fato, e durante a noite, não sempre,
oiço-lhe o rosnar, levanta-se, abra a janela, e depois
é tal e qual como as coxas da Etelvina,
Desaparece no nocturno céu como as abelhas da ilha
inventada pelas insónias da minha menina, a Etelvina, que ainda
acredita, que eu, ando perdido no Oceano, à deriva, em pequenas
rotações, mas verdade verdadeira
eu sou um pássaro que poisa hoje aqui, e amanhã,
não tem onde poisar, e
Depois de amanhã, quando acordar o Sol, se acordar,
e se tu, desculpa, morreste numa manhã de Novembro, mas havia sobre
nós
o quê?
Estou totalmente arrependido de ter adquirido tal
objecto, que uns chamam de avião, outros, avioneta, e outros...
pássaro de quatro patas,
o quê?
Gostava dele...
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
desabafos cansados
foto: A&M ART and Photos
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desabafo com as sílabas cansadas
emprestadas por ti
ontem
desabafo escrevendo asneiras nas
paredes do cansaço
começando por mim
terminando
sempre
sempre sem um simples abraço
desabafo sem perceber que perdi o teu
corpo num paquete devoluto
perdido numa cidade
esfomeado
esquecido
e achado
por uma galé desgovernada
que levita
e acredita
no poder de um granada
uma bela granada de simples palavras
com asas...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Pequenos objectos com insígnias prateadas
foto: A&M ART and Photos
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Tínhamos prometido nunca mais voarmos sobre árvores
de papel e estradas encravadas nas montanhas de difícil acesso,
curvas propositadamente construídas para nos magoarem enquanto
dormíamos nas caixas amplas de cartão que tampas e vazios de
enxofre mergulhavam na poeira de acordarmos estonteantes, alicerçados
a divãs de madeira com pernas de tijolo, ao longe, sentíamos a
brisa marítima dos pulmões encharcados em neblina e chuviscos com
mãos de regador sobre a horta de palavras, muitas e belas, acabadas
de semear
estava ainda escuro e a teu vestido com floreados
amarelos luzia como sinalização vertical numa das estradas
nacionais que estávamos habituados a percorrer, a partir de agora,
novos caminhos nos esperavam, novas curvas, lombas e bainhas que
faziam com que as minhas calças de ganga parecessem pertencer ao meu
antigo vizinho, Lembras-te? Claro que me lembro, como me podia
esquecer daquele parvalhão com óculos de fundo de garrafa e cabelos
grisalhos, às vezes, com um livro debaixo do braço, passeava-se
pelas ruas desertas, quando começava a noite e desaparecia o dia, de
nós, Claro que me lembro!
Tínhamos
(inventado o amor dentro de um copo com água)
Eu sabia que a noite era redonda, e que a luz era
constituída por partículas e ondas, dependendo dos casos, das
situações e dos momentos, porque umas vezes era oportuno que se
comportasse como uma partícula, outras, que se comportasse como uma
onda, havia
tínhamos dentro de nós pequenos objectos com
insígnias prateadas e com sabor a saudade, e uma longa e penumbra
estrada em terra batida nos esperava,
E havia uma mala com os poucos de nós pertences...
nada, apenas e nem sempre, algumas, poucas, memórias de séculos
inseminados pelos livros de ficção que optamos por deixar, ou os
objectos essenciais ao quotidiano, ou os livros
eu escolheria os livros
Ele, optou pelos objectos, que com a deslocação do
tempo tridimensional, acabaram, todos, por... uns, apodreceram,
outros, partiram-se, e outros... acabaram no casebre que existia no
pequeno quintal,
(… dentro de um copo com água)
Desassossego de ti quando poiso a minha mão
heterogénea nos teus seios de molusco como flores ornamentais das
estufas do quotidiano calendário com semanas inacessíveis, com
meses não existentes, ou que... perder-se-iam pelas calçadas em
solidão sonora, abrias e tínhamos um sorriso vindo de fora com o
consentimento do administrador do território desértico que optamos
por ocupar numa tarde de embriaguez,
gaguez
A cegueira de sermos felizes, quando sabíamos que
nunca o seriamos, porque os dias são melódicos, porque as noites
são poéticas, e porque tu
eu sou uma noiva em fuga, levo uma pequena
recordação de ti, nada, comparado como a quantidade de noites que
passamos dentro do copo com água (o amor), e porque tu
Eu? Eu sabia que a noite era redonda, e que a luz
era constituída por partículas e ondas, dependendo dos casos, das
situações e dos momentos, porque umas vezes era oportuno que se
comportasse como uma partícula, outras, que se comportasse como uma
onda, havia miúdos com um pequeno arco em aço em pequenos círculos
na terra do nunca, e Eu? Como assim, eu? Eu, nada, tudo bem, comigo,
esperando, sinceramente, que tudo bem consigo, e com os seus, e
cumprimentos aos pássaros do seu belo quintal, com árvores de fruto
e singelos corações acompanhados por bastiões de honestos barcos
carregados de brinquedos, e plásticos, cores, fios, e cordéis para
subirmos aos lençóis de seda que a tua cama escondiam (pequenas
moedas e sombras de Primavera),
sim, cumprimentos à prima e ao primo,
E
Talvez,
Havia e tínhamos...
(inventado o amor dentro de um copo com água).
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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