domingo, 7 de abril de 2013

Papel-químico

foto: A&M ART and Photos

Descia a rua e ninguém a cruzar-se comigo, sentia-me estranho e só, e todas as montras dos estabelecimentos comerciais, tapadas com jornais velhos, provavelmente encerradas, por ventura, há muito, pois as teias de aranha transpareciam para o exterior, havia um cheiro bafiento, penumbro, um cheiro a abandono, como aquele característico cheiro de quando somos abandonados por alguém e ao passarmos na rua – Coitado, cheira a abandonado – e aos poucos a tarde mergulhava no papel-químico para ser reutilizado na tarde seguinte, talvez amanhã, talvez depois de amanhã, ou... talvez nunca,
Tínhamos um cão rafeiro com olhos castanhos, pêlo curto, dentes afiados como lâminas de barbear, e quando se chateava comigo, eram os meus tornozelos que o pagavam, a fúria e o rancor, a maldição sobre a minha presença, e parece que nunca gosto muito da minha sombra, berrava-me e quando eu regressava tardíssimo a casa, lá esta ele à minha espera, como se eu precisasse de alguma coisa, ele, ele ajudar-me-ia... coitado do infeliz, coitado daquele que acredita que pode, e no entanto, pouco ou nada poderá fazer, a não ser, ladrar, ladrar e ladrar... coitado do Noqui I, como todos os cães, ladrar, ladrar e ladrar – Havia sorrisos de açúcar sobre a mesa das toalhas brancas – e hoje pergunto-me a razão de todos os rafeiros pertencerem a uma classe de fanfarrões, que não aguentam com um estalo no focinho, como os homens, e as pombas e as formigas
Pegava no papel-químico de anteontem, e colocava-lhe em cima um laço azul-escuro, e depois abria a janela e mergulhava-os no Sol de fim de tarde, regressavam as imperiais e o prato com tremoços, quatro o cinco, às vezes, seis, marinheiros sem embarcação definida – Queres dizer... desempregados? - não, não, marinheiros apenas de patente, marinheiros de esplanada, e quase no encerramento do dia, quando Deus com os seus assessores, faziam a contabilidade do dia... tínhamos sobre uma mesa redonda, e frágil, “cuidado – Frágil - “ aproximadamente oitenta copos de vidro, vazios, solitáriamente como andorinhas e botões de rosa,
E as formigas subiam árvore acima até encontrarem o fruto embrulhado em papel-químico, este, o de ontem, reviam o dia, visionavam as imagens sombreadas pelos lápis de cor das crianças da rua dos Alecrins, e uma senhora de bengala e óculos de sol, a que todos chamávamos de Dona Maria Dona, que vivia só, sem parentesco conhecido, pegava na bengala e corríamos como se fossemos moscas disfarçadas de gaivotas, deixávamos cair os lápis e quando chegávamos a casa, as nossas mães ao questionarem-nos – Os lápis de cor? - em uníssono respondíamos que...
Fugiram, mãezinha,
Hoje desço a rua e ninguém a cruzar-se comigo, sentia-me estranho e só, e todas as montras dos estabelecimentos comerciais, tapadas com jornais velhos, provavelmente encerradas, por ventura, há muito, pois as teias de aranha transpareciam para o exterior, havia um cheiro bafiento, penumbro, um cheiro a abandono, como aquele característico cheiro de quando somos abandonados por alguém e ao passarmos na rua – Coitado, cheira a abandonado – e quem nunca foi abandonado que atire a primeira pedra – É o atiras... -, e continuam lá, as frágeis mesas de esplanada, e continuam lá, as frágeis resmas de papel-químico dos dias passados desde mil novecentos e oitenta e sete, lá, como continuam lá, frágeis os queridos homens desesperados na ânsia de encontrarem companhia para as noites frias de Inverno, como continuam lá, as frágeis mulheres, com flores ao peito, com cabelos de chocolate, que se comiam nos intervalos do cinema,
Fugiram, mãezinha,
Olá, sou o Francisco – Muito prazer, sou a Maria André! - mas entre, entre e esteja à sua vontade, faça de conta que está em sua casa – Sim, claro, sim – e as frágeis formigas, como os lápis de cor, que quase sempre se perdiam – Os lápis de cor? - respondia-lhe
Fugiram mãezinha, fugiram,
Que se comiam nos intervalos do cinema, à luz dos candeeiros a petróleo, - Sopa? - não, não gosto de sopa, nunca gostei, detesto, como detestava as formigas do quinto esquerdo, sós, sem acesso ao sótão, ele voltou, sinceramente, e hoje, ficava lá, e hoje não regressava, e hoje, pegava nas folhas de papel-químico do avô Domingos, que religiosamente guardava numa caixa, e confesso que nunca percebi para que serviam, e mais tarde vim a descobrir que eram a cópia dos dias passados, coitado, e pegava nas folhas de papel-químico e construía uma papagaio, o pulsar do cordel enrolado no pulso, como um cabo de aço a prender árvores à terra com cheiro a chuva e a fogo, ouvíamos o tilintar das carapaças dos caranguejos esquecidos junto ao circo – O que são mangueiras? - mesmo debaixo da roulote dos palhaços, sentia-lhes as patas da frente contra os rodados de borracha como tenazes nas lareiras de trás-os-montes, e estávamos tão longe, distante, e descíamos a rua, descia a rua e ninguém me cumprimentava – Bom dia senhor Francisco! - olá bom dia Dona Menina Dona, e seguia, olhava e não ninguém, não havia árvores naquela cidade, barulhos, pedras de encontro às montras escondidas pelas velhas folhas de jornal – Procura-se Francisco Luís Fontinha – e não acredito
(Olá, sou o Francisco – Muito prazer, sou a Maria André! - mas entre, entre e esteja à sua vontade, faça de conta que está em sua casa – Sim, claro, sim – e as frágeis formigas, como os lápis de cor, que quase sempre se perdiam – Os lápis de cor? - respondia-lhe
Fugiram mãezinha, fugiram),
E nunca mais o encontraram, e nunca mais regressou, e pergunto-me, se o jornal que enfeita a montra diz que “ Procura-se Francisco Luís Fontinha” e se isso aconteceu há mais de dez anos, logo
A cozinha não tinha janela para as traseiras – Não percebi – estava a brincar, porque se a cozinha fica na fachada da frente, isto é, a cozinha tem janela para o alçado principal, pela lógica, pela lógica a cozinha não tem janela para as traseiras do prédio, logo
Há mais de dez anos que este estabelecimento comercial está encerrado – Não percebi! - repara, logo a cozinha não tem janela, logo
Dou-me conta que caminho pelas ruas de uma cidade fantasma, uma cidade que existe e não existe, digamos que – Bom dia dia menino Francisco – olá bom dia, Dona Teresa, como está a netinha? - Crescida e preguiçosa – Pois, pois... - como os barcos esquecidos no Terminal de Cruzeiros da Rocha Conde de Óbidos, presos a um cordel e um velho parecido com o avô Domingos a passeá-los rua acima, rua abaixo, e ninguém, nenhuma pessoa, nenhuma sombra, nada
Que desinquietasse a cidade fantasma,
E nada, tal como os lápis de cor - Fugiram mãezinha, fugiram – e a cidade, quando começava a noite, embrulhava-se no papel-químico e entrava dentro da caixa de cartão, até que mais tarde, ele, quando se lhe entranhava a solidão nos ossos, a abria, retirava o papel-químico e começa a recordar imagens que nunca
Existiram,
E que ele acredita terem existido.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 6 de abril de 2013

mil novecentos e oitenta e nove - quarto andar – sala um


Um verso desesperado
na tua mão solitária,
um vidro partido
na árvore dos sofrimentos
quando vem a manhã,
e ele ausente
de ti e de mim,
e ele mente
como toda a gente
quando chove torrencialmente
e caiem as estrelas do nocturno Céu
em desassossego,

O medo sabe escreve nos olhos da noite
como quando tínhamos os abismos segredos
em planícies de solidão,
agredias os meus tristes olhos
com o rancor das tuas lágrimas,
vestias-te de alegria
e dançavas,
comias,
brincavas sobre o meu corpo esmiuçado
entre os cigarros de tinta da china
que o merceeiro nos fiava,
e um pequeno panfleto de açúcar entranhava-se nas tuas veias...

Chegava o carteiro com palavras tuas escritas em papel de arroz
e uma andorinha saltitava no pequenos postal artesanal,
miúdo, pequeno morcego de luz,
e no entanto, vinham os insignificantes plásticos com as sandes
e os carnívoros sons das garrafas de vodka,
era festa lá em casa
bebíamos, comíamos... e dormíamos
e felizmente
sempre tivemos tempo para acordar,
outros
não acordaram nunca
e assim voaram até ao cais dos embalsamados ossos de penicilina...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
06/04/2013 - Alijó

A cidade das ratazanas em porcelana

foto: A&M ART and Photos

Uma cidade em chamas, um povo em alvoroço, as árvores balançam com a fome do povo em alvoroço, e tu, tu aí sentada, a fumar cigarros, como se não estivesse a acontecer nada de especial, está tudo bem dizes-me tu, não há problema, arreganha-me os dentes o teu pai, e no entanto, balançam as árvores, e no entanto, de tanto balançarem... poderão cair, sobre as mãos líquidas do povo em alvoroço, cansado de sofrer, e sem rosto, recomenda-se, e até diria que nunca vivemos como hoje, somos felizes, somos um casal feliz, sorridente, somos perfeitamente... os mais parvos do bairro onde vivemos – És tão pessimista, meu querido! - como fui pessimista quando fugi para cima de uma árvore, quando criança, e só consegui descer com a ajuda dos bombeiros, e tudo, porque, o Alberto meteu-me em cabeça que se eu estendesse um arame no caminho para o bairro, a meia altura do chão, era engraçado quando o senhor António passasse de motorizada, já noite dentro, e com algum desequilíbrio devido à falta de luminosidade ou porque o tinto da tasca da dona Francisca era do melhor que havia, não interessa, o problema foi que quando o pobre do homem vinha no seu rame-rame, pumba, ele para um lado e a pobre da motorizada para outra, conclusão – Quase que era degolado! - decapitado, poderá dizer-se, e ainda nós não vivíamos na Coreia do Norte, ou na China, que a família do pobre condenado à morte por fuzilamento, coitados, têm de pagar a respectiva munição – Queres tu dizer, meu querido, têm de pagar a bala? - sim, é isso, sim...
(os animais humanos sem direitos porque o direito do dinheiro fala mais alto do que a dignidade, tudo se cala, aqui e fora daqui, e assim vão enviando contas de munições a cada família que por azar, um dos seus queridos resolveu desafiar o sistema – E? - sim? - E se eles tiverem fraca pontaria, isto é, se o condenado precisar mais do que uma bala para voar até ao infinito amanhecer? - boa pergunta, minha querida, nunca tinha pensado nisso...)
Sim, talvez, talvez prendam as árvores com fios de aço para que não balancem tanto, mas... - Mas, meu querido, não há aço que aprisione o pensamento, e esse, vai sempre balançar... - mas esta cidade começa a ficar infestada de ratazanas, cabrões e pratos de porcelana...,
(depois dizes-me alguma coisa? - Sim, minha querida, digo)
Amo-te – Desculpa, não sabia, minha querida – e o “panasca”, desde miúdo que nunca gostou de sopa, papas, ou coisas similares, e agora – Obrigaram-te a comer sopa? - e agora digo-o, sem medo que te amo, e pergunto-me, questiono-me, adormeço pensando em ti, e a perguntar-me - E tu rapaz, sabes o que é o Amor? - desculpa, não sei o que são veredas cinzentas com fios de aço, desculpa, minha querida, não sei o que são fios de prata enrolados em pescoços feios, lânguidos, bronzeados cálices de azevinho, mórbidos, esfomeados como o fumo das sanzalas sem candeeiros de oiro, sem rios de magnésio, sem nuvens de chocolate, como a vida de “merda”, a nossa vidinha, de bairro de preferia,
(de uma cidade em chamas, um povo em alvoroço, as árvores balançam com a fome do povo em alvoroço, e tu, tu aí sentada, a fumar cigarros, como se não estivesse a acontecer nada de especial, está tudo bem dizes-me tu, não há problema, arreganha-me os dentes o teu pai, e no entanto, balançam as árvores, e no entanto, de tanto balançarem... poderão cair, sobre as mãos líquidas do povo em alvoroço, cansado de sofrer, e sem rosto, recomenda-se, e até diria que nunca vivemos como hoje, somos felizes, somos um casal feliz, sorridente, somos perfeitamente... os mais parvos do bairro onde vivemos – És tão pessimista, meu querido! - como fui pessimista quando fugi para cima de uma árvore, quando criança, e só consegui descer com a ajuda dos bombeiros...,)
Começo – Não percebi, minha querida! - ah... sim, quando lá passar eu digo-lhe, fica descansada, começo a ficar farto das palavras, dos poemas e dos textos que parecem poemas, começo a ficar farto, dos livros, e das coisas parecidas com livros, começo a ficar farto com o amor e com todas as coisas parecidas – Terminadas em dor? - ou isso, é-me igual, desigual seria se quando regressasse a casa e não encontrasse a porta de entrada, o pior seria se regressasse a casa, encontrasse a porta de entrada, entrasse, e lá dentro, nada – Como nada, meu querido? - nada, nem paredes, nem janelas, nem escadas, nem móveis, absolutamente nada – Imagino-o, meu querido, imagino-o... - e mesmo assim pedia à vizinha do lado – Vizinha, faz o favor de me emprestar a corda de nylon que serve para prender o seu burro à oliveira da terra funda? - ela meia mouca – Quer-se matar, menino? - e como posso eu explicar-lhe, a ela, à dona Francisca, que a corda era apenas para eu lançar ao ramo mais forte da árvore do quintal, e tentar subir até que não existisse mais árvore – Como o fizeste na infância? - e depois vinham os bombeiros, e eu descia
(sim, como o fiz na infância)
E descia, e descia, descia...

(quase ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Porque não sonhas com...

foto: A&M ART and Photos

Acordei cedo, sonhei contigo, e a cabeça estoirava-se-me, alguma coisa que eu tenha deixado sem me aperceber, quero dizer, alguma coisa que eu tenha esquecido sobre a mesa-de-cabeceira, um parafuso, uma porca, um anel ou a pulseira de pechisbeque que comprei no ano passado na barraca do cigano zarolho, mas não sei, meu querido, talvez o copo de água, talvez devido a um dos vidros da janela do quarto estar quebrado, mas... esta dor – Dormes poucos, meu querido – e não, não durmo pouco, nunca dormi pouco, e recuso-me a admitir de durmo pouco, mas durmo, sonho, às vezes, com pedras – Acreditas nisto? Quem sonha com pedras? - mas é verdade, sim, eu sonho, porquê?
(domingo vou à penitenciária visitar o André)
Porque, meu querido, não é normal sonhares com pedras, as pedras não são, não fazem parte dos sonhos – Então com que objectos posso eu sonhar? Se existem objectos para o efeito... - ora, sei lá agora, podes sonhar com o mar quando desce a tarde – Não gosto mais do mar – podes sonhar com as gaivotas em voos triangulares sobre o Tejo – Também deixei de gostar do Tejo e de triângulos – olha, porque não sonhares com
(sinto-o muito magro, diz que não lhe apetece comer, diz que não dorme, que a cela é sombria e húmida, tem os olhos adormecidos, percebes? Parecem o romper da madrugada, mas por alguma razão externa à natureza, a madrugada ficou submersa no horizonte, meia sombria, meia adormecida, meia ensonada, são assim, os olhos do André, sabes? Tenho, tenho pena dele e da solidão que habita nele, tenho pena de ser eu a única visita que tem, a mãe, que não pode, sempre atarefada, a irmã, estuda à noite e trabalha de dia, o irmão mais novo, que não tem coragem para entrar numa penitenciá, tretas, meu querido, tretas, porque a mãe encontro com o amigo, de braço dado a passear no Rossio, à irmã, sim a que diz estudar e trabalhar, essa galdéria, vejo-a sempre com namorados diferentes rua acima, rua abaixo, e)
Experimenta sonhar com nuvens – Nuvens? - vou agora sonhar com nuvens...
(e o cabrão do irmão mais novo sempre com o rabo sentado na sala de jogos, umas vezes a jogar bilhar, outras a ver jogar bilhar, e quando está teso, sabes como é, faz-se à vida, e vai até Belém, engata aqui, engata ali... e o irmão que se lixe – Sabes, meu querido? - tenho pena do André...)
Depois lembrava-me de chuva, e a chuva faz-me recordar as árvores, e as árvores a terra, e a terra o cheiro, e o cheiro..., um quintal esquecido no meio do capim – Talvez consiga sonhar com as bonecas de porcelana da tia Clementina – boa, porque não tentas?
(sinto-o triste, coitado do André)
Às vezes, lembrei-me agora mesmo, tenho medo do sono, é isso, medo de adormecer e não acordar – Medo de morrer... - não, não é medo de morrer, é medo, medo de não acordar, ficar eternamente a dormir, sem pegar em livros, sem ver palavras, sem olhar as flores . Sem ires visitar o André! - sim, também, é esse medo que me preocupa, é esse medo que não me deixa adormecer, assim – Assim enquanto estiveres acordado... - claro, enquanto estiver acordado tenho a certeza que a terra não dorme, e tenho a certeza que a noite não termina nunca, e
(triste)
E consigo ouvir uns pássaros parvos que não dormem nunca, oiço-os toda a noite – Se calhar estás a sonhar que ouves pássaros...! - a sonhar, eu? Eu não sonho, deixei de sonhar, não acredito em sonhos, não
(estás tão pálido, meu querido)
Que não, porque a claridade existe para te proteger das embaciadas línguas de fogo que a maré lança para os barcos, e quando pensávamos que estávamos de mão dada, tu, percebias que eu tinha deixado de existir, estavas só, como sempre, só, e eu, eu nunca percebi a tua solidão, ausentava-me quilómetros de rio até desaguar nas rochas juntamente com o descarregador do esgoto, e
(misturavas-te com a cidade)
E como sempre, a cidade perdidamente perdida nas arruadas sem saída – Tens visitado o André? Como está ele? - uma cidade penumbra com janelas de vaidade, casas que chegam ao Céu, e automóveis que não cessam nunca de caminhar, não dormem, como ele
(triste, muito triste, mas vai-se aguentando)
E como ele, também os outros, aqueles que acordam cedo, e correm para a cidade, fazem-se à vida, às vezes têm azar, e é a vida que se faz a eles, outras vezes, são uns pássaros negros, muito grandes, maiores que os edifícios – Aviões? - sim, esses mesmo, que os levam e nunca mais regressam...
(e que nunca mais vou sair daqui – Claro que vais, André, claro que vais).

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Infinito Inferno

foto: A&M ART and Photos

Se eu me perco mar adentro
dizes que sou um barco desgovernado
em sofrimento
um barco aparvalhado,

E nem gota de água consigo ser
nem tão pouco um papagaio de papel
não sou palavra de escrever
nem ponta de cordel,

Se eu me perco perdido vou andar
quando da noite de Inverno
a nossa lareira se apagar,

Livremente só como as árvores em flor
perdidamente alegre dentro do infinito inferno...
no indiferente amor.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha