O
tecto da igreja desabou, o sacerdote de batina suspensa nos ombros saiu em
demandada como se Sábado deixasse de ser Sábado, como se hoje houvessem plantas
ornamentais nas esplanadas complexas das varandas em solidão, uma velhinha
chorava quando no rádio da vizinha a canção maldita começava a rosnar, e
enfurecida, ela
Plantas
carnívoras, senhor prior? Sim menina Margarida, a nossa querida igreja foi
invadida por carnívoras plantas, sabe-se lá de onde vieram, talvez tentações do
ensanguentado e tentador Diabo,
Diabo
senhor prior?
Não
sei, não sei menina Margarida, mas confesso-lhe que começo a ficar com medo,
que já não durmo como dormia, que vejo sombras nas paredes do meu quarto
acanhadíssimo, porque nunca há dinheiro para as obras, e os fiéis
Defuntos
e não defuntos,
Tesos
como os barrotes do senhor Manuel, que ele utiliza como escoras do alpendre
semeado sobre o primeiro piso térreo da mansão, quatro paredes com buraquinhos
por onde se avista, ao longe, o mar desenhado num lençol que a tia Margarida
deixou estendido na varanda, e durante a noite,
Porque,
As
faíscas desagradáveis dos silêncios embaciados que o fumo do cigarro do senhor
prior deixou ficar sobre as flores embalsamadas, as plantas carnívoras multiplicam-se
como de impostos se tratassem, e a velhinha Margarida reclama
A
minha reforma já nem me chega para comprar água,
Porquê?
Porque
o tecto da igreja desabou, o sacerdote de batina suspensa nos ombros saiu em
demandada como se Sábado deixasse de ser Sábado, como se hoje houvessem plantas
ornamentais nas esplanadas complexas das varandas em solidão, uma velhinha
chorava quando no rádio da vizinha a canção maldita começava a rosnar, e
enfurecida, ela contava religiosamente os cêntimos que nunca sobejavam,
E
ao longe o senhor prior
Não
me fale em cêntimos, menina Margarida, não me fale em cêntimos,
Vou
falar-lhe em quê senhor prior? Vou falar-lhe em quê…
Olhe
Porque,
Fale-me
em plantas carnívoras, fale-me no Diabo, fale-me
Diga,
diga senhor prior,
Fale-me
na cidade de Luanda que festeja hoje o seu 437º ano de existência, mas por
favor, por favor menina Margarida
Não
me fale em cêntimos que me recordam um canino que tive na infância, e que Deus
o tem, em qualquer sítio, julgo eu, como
Olhe
Porque,
Como
as faíscas desagradáveis dos silêncios embaciados que o fumo do cigarro do
senhor prior deixou ficar sobre as flores embalsamadas, as plantas carnívoras
multiplicam-se como de impostos se tratassem…
(texto
de ficção não revisto)
@Francisco
Luís Fontinha
Alijó