foto de: A&M ART and Photos
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deixarei de pertencer aos teus olhos
e vagamente... deixarei nas tuas nuvens
de algodão o cigarro fantasma
deixarei de adormecer nos teus cabelos
como o fazia antes das madrugadas serpenteadas
nas oito esquinas do medo
ouvirei perfeitamente as tuas mágoas...
terei o leve cuidado de acariciar os
teus lábios
e
deixarei de voar nas tuas lágrimas de
maré embriagada
e vagamente transformar-me-ei na cinza
do teu imaginário cinzeiro
haverá uma janela engomada
com cortinados de fumo
e haverá... uma língua endiabrada
pernoitando no meu angustiado peito
servirei de teu mordomo devidamente
fardado
andarei pelos corredores da tua
imaginação levitando sem tocar nos objectos de adorno
sentirás dentro de ti o meu vagabundo
corpo
e nada conseguirás fazer para cessarem
os teus sinceros gemidos
baterá o vento levemente nas ardósias
dos tentáculos pinheiros de Carvalhais
ouviremos o sino engasgado nas sílabas
das searas de milho
deitar-te-ás dentro do espigueiro...
e o teu ventre correrá em círculos na
eira granítica do desassossego
amar-te-ei?
mesmo sabendo tu que sou um espantalho
de aldeia
onde poisam os pássaros
e cagam os pássaros... sobre mim
sobre nós
deixarei os livros cansados das minhas
mãos
dos meus olhos
às palavras... às palavras vou
derramar-lhes o fogo do silêncio
embrulhado em pergaminhos sonos
e verei transversalmente o meu
esqueleto no patamar da morte
ouvirei os teus casmurros beijos
como sentirei em mim os teus deleitados
dedos
sujos
imundos...
transbordando sémen como caravelas
esquecidas no Oceano dos vidros solitários...
e acabarei por pertencer aos ramos
caducos do Outono
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 29 de Novembro de 2013
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