sábado, 13 de novembro de 2021

Os sonhos sonhados

 

São montanhas e vales

Despidos de palavras de escrever,

São rosas, são árvores e pássaros,

São poemas a correr,

São água a ferver,

São rochas a brincar

Nas ribeiras a saltar,

São palavras,

São palavras de amar.

São luar

Nas planícies em solidão,

São carros desgovernados,

São carros em contramão,

Na contramão dos sonhos sonhados.

São as brincadeiras ao nascer do sol

Quando acorda a madrugada,

São rosas, são árvores,

São canção…

São tudo e não são nada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 13/11/2021

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Os pássaros de viver

 

Onde habitam os pássaros

Dos teus lábios

Que voavam nas árvores da minha boca,

Meu amor!

O que fazem os pássaros

Dos teus lábios

Quando na minha boca, meu amor,

Habitam as flores do teu sorriso!

Como se sentem, meu amor,

Os pássaros do teu cabelo,

Quando nos meus braços,

Habitam o silêncio e o desejo!

O que sentem os pássaros

Dos teus seios,

Quando nas minhas mãos,

Habitam os pássaros de escrever!

E dos pássaros das tuas coxas,

Quando se abraçam

Aos pássaros da minha noite,

Sabendo que os pássaros

Do meu silêncio,

São os pássaros de amar,

São os pássaros de beijar…

Como serão os pássaros

Do teu olhar,

Quando os pássaros do meu escrever,

Se sentam junto ao mar,

E, se abraçam até que acorde o luar,

E nasçam os pássaros de viver.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 11/11/2021

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Palavras na alvorada

 

Entre o Ansys, placas rectangulares

E quadradas,

Prefiro os teus abraços,

Prefiro a tua boca envenenada pelo desejo,

Prefiro as madrugadas,

Prefiro o teu beijo…

Nas noites envergonhadas.

Mas… esquecemos as placas

Quadradas, rectangulares, circulares…

Esquecemos o Ansys que gatinha no meu pensamento,

Vamos falar de amar!

Vamos falar das cidades,

Vamos falar dos mares,

Do sol, que és apaixonada,

Das estrelas nocturnas do Ujo,

Dos retractos que amamos,

Vamos falar das gaivotas,

Pontes,

Pontes que atravessam rios,

Pontes que nos levam à cidade,

Vamos falar de rosas,

Palavras,

Sim; palavras amorosas.

Vamos esquecer o ansys

E todas as placas,

Sejam lá o que elas sejam,

Quadradas,

Rectangulares,

Circulares,

Tanto faz,

Mas, vamos falar de desejo,

De abraços junto à praia,

Vamos falar dos livros,

Dos desenhos,

Vamos,

Vamos desenhar um abraço

No silêncio da noite, um beijo na despedida da madrugada,

Vamos esquecer o cansaço,

E semear palavras na alvorada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

ESTiG, Bragança, 10/11/2021

domingo, 7 de novembro de 2021

A lentidão das coisas

 

Abraço-te, sentindo que da lentidão das coisas,

Acordam na tua mão as rosas floridas,

Abraço-te, sabendo que na lentidão das coisas,

Vivem todas as palavras sofridas.

Abraço-te, sabendo que nos braços da lentidão das coisas,

Escrevem-se livros de poesia e, desenhos de viver,

Escrevem-se também, as palavras que ela sentia,

Nas palavras de morrer.

E de dizer.

Abraço-te, abraçando-me à lentidão das coisas,

Um perfume envenenado,

Talvez, como das outras vezes,

Um corpo ensanguentado,

Ou uma donzela em translação,

Talvez um corpo queimado,

Talvez, talvez uma enorme ferida no coração;

E, mesmo assim, houve uma vez,

Onde senti a neblina cansada da escuridão.

Abraço-te, quando na lentidão das coisas,

Regressa a noite bem vestida,

Se senta na esplanada da vida,

Grita,

Grita para a alvorada,

E ouve da enxada maldita,

O silêncio das abelhas em gargalhada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 07/11/2021