segunda-feira, 17 de julho de 2017

O feitiço da madrugada


Há-de crescer no teu peito a saudade,

O lívido Oceano vergado à tua sombra longínqua…

Que brinca nas minhas mãos,

Um dia regressará a mim a tua sonolência em forma de deserto,

As árvores do teu passado são hoje páginas argamassadas de poesia,

Livros dispersos sobre o mar,

Escondo-me de ti,

Tenho medo que digas que envelheci…

E que o rio deixou de respirar,

Há-de crescer no teu peito o feitiço da madrugada,

As correntes que me prenderão aos socalcos inanimados…

A máscara espelhada nos lírios da insónia,

Fragrância perceptível nas andanças tuas pernas subindo o Chiado…

E, eu sentado na penumbra disfarçado de sem-abrigo…

Cuidado,

Stop,

Amanhã aparecerás em frente ao espelho,

Triste,

Tão triste meu amor…

Pertencer a estes livros estacionados na berma da morte.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 17 de Julho de 2017

domingo, 16 de julho de 2017

Palavras que me encantam


São as tuas palavras que me encantam,

São os teus livros que habitam em mim a razão de viver,

Caminhar junto ao rio…

Galgar os socalcos do querer…

São as tuas palavras que me encantam,

Durante a manhã,

À tarde…

De noite,

Palavras, tristes as tuas palavras…

Na planície do silêncio,

São as tuas palavras que me encantam,

E desalojam…

Deste cubículo de lata,

Onde durmo,

Vivo…

E morro.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 16 de Julho de 2017

sábado, 15 de julho de 2017

Palavras indigestas


Ela,

Disfarçada de mar a entrar pela janela,

Ela,

Disfarçada de Pôr-do-sol antes do anoitecer,

Enganador sentimento de dor…

E ela,

Nas cansadas fileiras da sonolência,

Ignóbil projecto convertido ao silêncio,

À janela,

Ela,

Disfarçada de cortinado,

Verdejante,

Humilhante alimentares-te das minhas palavras indigestas,

Gastas…

Gastas como ardósias de papel.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15 de Julho de 2017