segunda-feira, 3 de julho de 2017

O homem suicidado (II)


Uma criança de luz adormece no teu sorriso prateado,

Oiço o rosnar do fumo dos teus cigarros envenenados pela escuridão,

E o teu corpo é apenas um amontoado de ossos,

Morres-me nas mãos,

Suicidas-te com as palavras perdidas na Calçada do Adeus,

Pobre criança sem Pai,

Pobre luz sem Mãe,

E do mar regressam as cordas do teu sofrimento,

Alicerças-te a mim,

Pareço um rochedo ingrime perfurando o intestino do suicidado…

Nada mais posso desejar,

Que partas em breve….

E sejas feliz assim,

 

Assinado,

 

O homem suicidado.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 3 de Julho de 2017

domingo, 2 de julho de 2017

O amor…


O amor…

Ai o amor acorrentado ao sorriso da manhã!

 

Palavras vãs,

Tristes sombras dos alegres divãs,

Onde me deito e esqueço a tua ausência,

Ai o amor da infinita infância,

Silêncio madrugada,

Flor abandonada,

Ai o amor…!

Ai nada.

 

Alfama,

Belém enamorada,

O Tejo na minha mão desmesurada…

Ai o amor…!

 

O amor de nada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 2 de Julho de 2017

sábado, 1 de julho de 2017

O homem do mar


Sentas-te no meu colo como dois pilares de areia envenenados pelo silêncio,

 

Oiço a tua respiração romper a manhã,

Ainda o sol não acordou,

Pego na tua mão,

Desfeita de aventuras,

E ternuras,

Que o tempo levou…

 

E perdeu no chão,

A chave do teu coração,

 

Sentas-te na minha sombra, menina do teu olhar,

 

Desfeito em lágrimas o amanhecer ausente,

Duas portas sem saída,

Nesta cidade perdida…

Perdida que não sente,

 

Porque te sentas,

Em mim,

 

Todos os dias loucos sem madrugada,

 

Oiço a tua voz pergaminho,

Perdida na brancura da razão,

Estou só, e sou um ninho…

Um ninho na solidão,

 

Sentas-te em mim,

 

Um homem construído de mar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 1 de Julho de 2017