sábado, 26 de março de 2016

os meus livros


(com amor para a minha mãe um feliz aniversário)

 

amo os meus livros

e os teus olhos de madrugada mimada

amo a vida construída de janelas

e de portas de entrada

amo o teu corpo camuflado pelas ervas daninhas do amanhecer

amo as palavras de escrever

e os versos de chorar

amo os barcos

os rochedos vestidos de barcos

amo o mar

e as planícies do sofrimento

amo o vento

que não quer regressar

amo os meus livros

e os teus olhos

e os livros dos teus olhos

e os olhos dos teus lábios

amo

amo sem ser amado

pelas palavras

e pelos teus olhos de madrugada mimada

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 26 de Março de 2016

sexta-feira, 25 de março de 2016

remetente ausentado


a felugem do corpo

no alfabeto secreto da paixão

as múltiplas palavras ensanguentadas

no deserto coração

as madrugadas invisíveis

estas que o são

e não regressam à minha mão

nunca mais

a felugem do corpo

descendo as ruas íngremes da cidade

o feitio estranho da cegonha vaidade

quando a saudade

poisa no ombro do beijo

os lábios amargos do musseque no abismo desejo

sem destino

este menino

sem cartas de amor

este remetente ausentado

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 25 de Março de 2016

quarta-feira, 23 de março de 2016

janela amar


o relógio nunca cessa de chorar

as lágrimas do mar parecem pálpebras envenenadas

nos socalcos da saudade

o rio esconde-se nas umbreiras do silêncio

como se fosse a fera amestrada do vento

sem sorrisos de vida

nas espalmadas marés do sono

o relógio vive

escuta os meus lamentos

enquanto lá fora alguém sofre

levemente andando pela cidade de algodão

e inventa sonhos

e pede-me pão

nunca se cansa de chorar

este triste relógio de corda

não sente a dor

não sente a morte

daqueles que partem e deixam de ouvir a Primavera…

e levam no coração uma pedra

do infinito abismo de habitar uma calçada

um corpo estranho

imbecil

e velho

o relógio nunca cessa de chorar

alegre

nas noites sem dormir

abre a janela amar

toca no cortinado amor

e envelhece esperando que o tempo o venha buscar

até que uma qualquer tempestade o obriga a parar…

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 23 de Março de 2016