sábado, 9 de janeiro de 2016

O menino de Luanda


O silêncio olhar

Submerso na tempestade do fugitivo,

A vida sem sentido,

A vida… a vida encurralada numa ruela escura,

Triste,

Triste como as serpentes da paixão,

A luz da solidão

Nas engrenagens do desejo,

Depois… depois o beijo,

A caricia entranhada no cansaço corpo,

Nu,

Ao vento

Como uma bandeira sem Pátria,

Os gonzos da infância

Quando acorda o dia e os teus lábios pertencem às nuvens prateadas,

Tão simples

O silêncio olhar

Na boca do narciso…

O desassossego da alma

Na morte de ninguém,

Vegetativo o estonteante rio dos amores,

As floreiras sós,

Sem ninguém,

A vida sem sentido…

Triste,

Não,

Não sei amar um morto-vivo,

Não,

Não sei escrever na montanha do passado,

Tínhamos gaivotas,

Frango assado,

E felizes que éramos,

Com duas côdeas de pão

E um olhar de madrugada,

Amor,

Amor,

Desgraçada… a vida, a calçada,

Corro,

Desço,

Embriago-me nos teus seios,

E permaneço

Um esqueleto de vento,

Uma ténue limalha de sémen…

Não,

Não sei amar…

Amar é complicado,

Difícil,

Acordar,

De manhã

E tu não estás nos meus lençóis de pergaminho,

Fujo,

Escondo-me…

Viva o vinho,

A vinha,

E todas as amendoeiras em flor…

Corre, corre seu safado cliente dos nocturnos abismos,

Nunca tive sorte,

Nunca amei uma pomba,

Um papagaio em papel,

Uma praia,

Uma mangueira,

Uma criança procurando brincadeira,

Eu,

O menino de Luanda.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 9 de Janeiro de 2016

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O só menino


O só menino

Comtemplando o rio,

Desenha socalcos na palma da mão,

Escreve poemas no coração,

O só menino

Não sabe chorar,

Dorme quando cai a noite e deixa-se absorver pelo ténue luar

E não conhece a escuridão,

O só menino

Sempre abraçado à fome da solidão,

Inventa gaivotas e tem no olhar

A penumbra madrugada,

E tem no peito,

O beijo

Do amanhecer,

Sem o saber

(Escreve poemas no coração),

Grita. Eu quero o mar.

E o mar vem a ele,

E leva-o,

E leva-o para outro lugar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 7 de Janeiro de 2016

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Indigente


Sou um indigente conformado

Filho da noite quando a noite é noite

E do vento

Quando o vento é vento

Sou a palavra

Sou a jangada

Sou o esqueleto sem medo

Que habita numa calçada

Invisível

Apelidada de saudade

Sou um indigente saudável

Diplomado em perfumaria

Canso-me com a alegria

E choro com a melancolia

Sou triste

Aparente

Indigente

Agreste

Comestível às primeiras horas da manhã

Sou um indigente conformado

Sou gente

Que sente

O luar aprisionado

Num qualquer olhar

Numa qualquer cidade apilhada de fantasmas…

Sou um indigente

E sou homem do mar

Quando o mar era mar

E me trouxe

E eu vim

Vim aqui parar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 5 de Janeiro de 2016