sábado, 26 de dezembro de 2015

O ditado cansado das pedras de brincar, o silêncio mergulhado no luar, e todas as coisas dormindo, famintas as minhas palavras, complexos os meus abraços, que são poucos, meu amor, que são poucos,


Irrito-me com a tua passividade,

A conformidade, o abismo vermelho das abelhas em flor, o sonambulismo dos meus sonhos,

Além, cartas de amor preguiçosas, voando sobre as gaivotas,

Irrito-me comigo, com a janela do meu quarto, e com os teus beijos,

Meu amor,

Com os teus beijos,

Quando regressa a penumbra e acorda a sinfonia do Adeus,

Tão fácil, meu amor, tão fácil… o amor,

E fugir de “Deus”, tão fácil meu amor…

Irrito-me com as minhas conversas suspensas nos candeeiros do cansaço,

Irrito-me, meu amor, irrito-me com o triciclo da minha infância, um triste triciclo, que me amava, tenho a certeza,

O único amor da minha vida,

Um pedaço de madeira, três rodas e um coração do tamanho do Universo, que saudades, dele, meu amor, que saudades,

Irrito-me com o teu corpo desenhado na geada, parece-me mais gordo, parece-me mais desejado, mas, mas meu amor, é tudo uma ilusão de óptica, ilusão, ilusão,

O abstracto sorriso do palhaço rico, a gargalhada do palhaço pobre, e sinto-me um circo, ambulante, de terra em terra, a vender amor e coisinhas em cartolina,

Que saudades, meu amor

Que saudades dos Domingos à janela, olhar-te, meu amor, olhar-te…

Sem saber que pertences aos fantasmas da noite.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 27 de Dezembro de 2015

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Tínhamos prometido separarmo-nos naquela noite, inventamos partes da Teoria de Einstein para recordarmos o que era impossível de recordar, a separação, o fim, e o adeus


Ontem recebi carta dela, está tudo bem, os arrozais ainda dormem, os coqueiros soluçam entre os finos cortinados de tristeza e a claridade do fim de tarde,

Adeus, ontem recebi, a carta vinha amarrotada, cansada, e embalsamada como as rosas no interior de um livro, o parvalhão de um livro,

Se algum dia eu abraçava uma rosa embalsamada…

De um livro, muitos anos, Einstein para recordarmos o que era impossível de recordar, a separação, o fim, e o adeus das gaivotas a cada encerrar de uma janela que só a dor consegue fazer sobreviver,

Tínhamos,

Inventamos o amor “transtemporal” os catetos, a hipotenusa, a verruga, o cinzeiro a abarrotar de conversas sem nexo, nunca tive um sonho, morri sempre na praia, nunca, se algum dia eu abraçava uma rosa embalsamada…, nem eu, ouvia-a

Tínhamos, não sonhos, não sorrisos, não beijos, nem um simples calendário suspenso na cozinha, nunca sabíamos a quanto andávamos, se era terça-feira, sexta-feira… tanto faz, ouvia-a, irritava-me com a sua ausência, mas sempre que podia

Partia, levava todas as roupas e todos os livros, até as velhas cartas transportava na bagageira, e nunca me disse adeus,

Amanhã,

Me disse adeus, até amanhã, amo-te, nada, nada

Como hoje

Nada.

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 25 de Dezembro de 2015

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Caracol parede acima, caracol parede abaixo, “cagarin-cagarou”, amanhã é outro dia, amanhã será um novo dia de…


Ela é a mulher mais bela do Universo, incendeia montanhas, submerge aldeias, e “cagarin-cagarou” que amanhã é outro dia, uma nação em desordem, a aldeia a vomitar silabas como quem vomita poemas de álcool, e o meu corco docemente embalsamado pela tristeza, a “rita” embriagada esperando o seu amante, e tarde após tarde, esta irritante fotografia desfocada, caracol parede acima, caracol parede abaixo, foi-se

A Gravidade da gravidade, o inchaço da pornografia nos lábios do pornografo, abstracto corpo voando para leste, depois desceram as madrugadas

Amanhã, mor?

Depois desceram as madrugadas, ele, “cagarin-cagarou”,” e que com paciência até se vai ao cu de uma formiga”, duvido, não acredito no Caracol parede acima, caracol parede abaixo, tretas dele, como se o caracol fosse um pássaro de lábios pintados, vermelho anoitecer na face da lua,

“cagarin-cagarou”,

 Da lua um sorriso de sono…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 24 de Dezembro de 2015