terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O dia recheado de panos brancos (trapos)


Confuso

No cansaço da tristeza

Difuso

Insolente

Confuso e doente

No cansaço da beleza

O dia parte

Sem se despedir de mim

Como sempre

Todos partem…

E ninguém… até amanhã camarada

Ou amigo

Esta cambada…!

Era mais feliz se fosse sem-abrigo

E não tivesse madrugada

E cama para dormir

Para quê?

Para depois de acordar ter de fugir?

Não…

Confuso

No cansaço da mesquinhez alheia

Escondo-me na aldeia

E finjo-me de morto

Assim sou feliz

Assim…

O dia parte

Como sempre

A desilusão de adormecer

Sem perceber

Porque choram as gaivotas à minha porta

E um sem-abrigo tem porta?

Não tenho número de policia

Nome de rua

Sou Ateu

E confuso

Assim…

Um “Cabrão” desqualificado…

Porque estou confuso

E cansado.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 15 de Dezembro de 2015

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A noite louca de paixão


A noite despe-se sem saber que o dia ainda não terminou

Acendem-se as luzes do sonho

Inventam-se as sombras do amanhecer

Vem o luar

E esta cidade onde habito…

Mais parece uma montanha a arder

O cheiro do carvão

As palavras do homem que corre as ruas em busca de solidão

E a tristeza

E a tristeza sempre alicerçada à mão

Como se trouxesse uma caneta invisível

Escreve nas paredes

Nas árvores

E nos cinzentos beijos da insónia

A noite

Louca

De paixão

Não dorme

Não revindica a alegria

Nem as fogueiras da madrugada

A noite despe-se

Sem saber

Que um dia

Que um dia a tempestade há-de regressar…

E do sonho acordará a morte.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 14 de Dezembro de 2015

domingo, 13 de dezembro de 2015

Como é triste… como é triste amar-te!


A lua com todo o seu esplendor

Poisada sobre o desejo da melancolia

A vida parece uma cidade em ruinas

Sem habitantes

Na penumbra do silêncio

Inventando pedacinhos de alegria

E beijos em papel colorido

O amor sofrido

Querido

Na sombra das árvores sem destino

O menino

Agachado nas pedras da infância

A lua dorme

Tu

Tu dormes nos braços da lua

E não sei quando acordarás…

Ou se algum dia vais acordar

Dos sonhos sem projecto

Nos momentos recheados de insónia

Poisada

Sobre o desejo

A lua com todo o seu esplendor

Nas tristes palavras de amor

Esquecida nas marés do mar

Sentindo o peso da minha mão

Empunhando uma caneta

Torta

Feia

E triste

A corda do enforcado envolvendo o meu pescoço

Tenho um frágil esqueleto

Que mais parede em porcelana

Da fina

Pura

Ínfima

Minerais acesos nos meus lábios incinerados

Sobre a cama

Todo o dia

Toda a semana

Tu enforcas-te

Eu enforco-me…

Ele não se enforcou

Alegre

Feliz

Desiste

Assiste ao desmoronar dos edifícios negros

Em queda livre

Com direcção ao mar

Como é triste amar!

Como é triste ser amado…!

Como é triste ver a lua com todo o seu esplendor poisada nos teus seios sem os acariciar…

Como é triste…

Como é triste amar!

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 13 de Dezembro de 2015