terça-feira, 27 de outubro de 2015

As vozes de amar


Esta triste esfera metálica

Que habita o meu corpo de água

Não se cansa de viver

E gritar com as minhas palavras

Não se cansa de escrever

Com as suas perplexas garras

Que a alicerçam ao mar

E a suicidam contra os rochedos

A arder

E todos os medos

Descendo a calçada a correr…

Esta triste esfera

Metálica

Ao pequeno-almoço

Quando todas as janelas da minha casa dormem

(O banho matinal

O café e as torradas sobre o telhado)

Esta esfera

Metálica

No meu corpo deitado

Ou as alegrias da madrugada

Nas tristezas do luar

Ou a vanguarda manhã

Nas vozes de amar

Sem eu o saber

Sem eu o perceber

Esta esfera

Pequena

Triste

E que nunca espera

Nem desiste

De habitar no meu corpo… de água.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 27 de Outubro de 2015

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Angola querida


Não me “fodas” minha amiga,

“fodeu-se toda a poesia,”

“fodeu-se” a revolução e o golpe de Estado, minha amiga,

“fodeu-se” a alegria,

E o nascer do dia…

Na minha Angola querida…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 26 de Outubro de 2015

domingo, 25 de outubro de 2015

Lisboa 1987


Hoje visitei a cidade das esplanadas, sentei-me no teu colo, mergulhei no teu perfume, sabia-me a saudade acorrentada a um triste cubo de vidro, não importa, amar-te-ei sempre, amar-te-ei eternamente sempre, mesmo que o rio se esconda no pôr-do-sol, amar-te-ei

Tive um sonho, revistavam-me a casa, conversava com o meu pai sobre os meus poemas, sobre livros, sobre as coisas mais simples da vida,

Toma conta da tua mãe,

Amar-te-ei eternamente só, amar-te-ei eternamente até que a morte me transforme em poesia, e a minha cinza seja lançada ao mar, sempre amei o mar, sempre amar-te-ei eternamente te,

Hoje, visitei a cidade das esplanadas, sentei-me, não estavas lá, a tua ausência recorda-me o livro de “Boris Pasternak” “O Doutor Jivago”, Lisboa, 1987, há tanto tempo que recuso afirmar se o amar-te-ei é verdadeiro ou apenas um sonho de amar, uma nuvem, a chuva descendo devagarinho sobre o teu corpo de chocolate

Falavas-me de ter juízo, mas pai, sabes que nunca tive juízo, nasci assim, sou assim, eu sei meu filho, eu sei, mas tento conversar contigo todas as noites, mas tu, meu filho, sempre ocupado, pareces uma ribeira descendo a montanha,

O teu corpo de chocolate derretendo nas minhas mãos, os teus olhos alicerçados aos meus olhos, amar-te-ei? A menina dança…!!!!!!!!!!!!!!!!!! Não, esqueça, desista de mim, e vou desistir de conversar contigo, sempre as mesmas palavras, tu falas, eu, eu oiço, sempre as mesmas palavras…

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 25 de Outubro de 2015

sábado, 24 de outubro de 2015

Palavras semeadas


Tenho no peito o cansaço da manhã ensanguentada,

Semeio as palavras como se elas fossem sementes,

Cubro-as para as proteger da geada,

Falo-lhes, acaricio-lhes o cabelo com desenhos de serpentes…

Sento-me, e espero que acorde a madrugada,

Amanhã crescerão e nascerá um louco livro de poemas,

O meu livro, o meu filho, a minha alegria,

Fumo-as enquanto crescem,

Fumo-as enquanto ejaculam a triste poesia,

Ai… ai como eu queria…

Abraça-las como se fosse o amor da minha tarde junto ao rio,

E só de pensar que elas me esquecem,

Como me esqueceram todas as palavras que semeei…

Desenhei nos teus lábios,

Cantei nos teus beijos,

Entre gemidos e desejos,

Entre silêncios e sábios…

E perplexos adágios.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 24 de Outubro de 2015

Frágeis corpos

Todos os corpos são frágeis quando a mendicidade do desejo assombra a melancolia, nunca consegui perceber a loucura da paixão, o silêncio, a acto de permanecer suspenso nas tuas palavras, os teus beijos aprisionados, a tua boca penhorada aos meus lábios, quando percebo que na tua mão habita a saudade, o perfume da esperança e a liberdade,
Comes-me, meu amor,
Carnívoro sonho, peneirento abismo nas carcaças devoradas pelos abutres, obrigado, de nada, sempre às ordens do cansaço, meu amor, reconhecer a saudade do Inverno de ontem, à noite, meu amor, um pilar se sémen conquistando o embuste magnético da madrugada,
Todos os corpos, meu amor,
Ossos, envenenados orgasmos entre palavras e palavras não palavras, escondo-me, meu amor, escondo-me no teu púbis de granito, desapareço na tua vagina, abro a janela… olá, bom dia hoje dormi mal, quase
Todos os corpos,
Quase mergulhei no texto da infância, e pergunto-me… quem vai ler esta “merda” ou gostar desta “merda”, ninguém, claro, meu amor…
 
(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Outubro de 2015