segunda-feira, 15 de junho de 2015

Noite geométrica


Sinto a poeira dos teus ossos

No meu cansaço,

Sinto a sombra da eira

Nos meus ombros pincelados de Primavera,

Sinto a noite geométrica da saudade

Nos versos tristes embainhados,

Os soldados,

Nunca desistem de lutar,

Mas o mar fica tão longe…

Mas o mar… mas o mar deixou de pertencer à cidade,

E a cidade,

Hoje… é um amontoado de rochedos ensanguentados…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 15 de Junho de 2015

domingo, 14 de junho de 2015

A morte


Os soníferos morrem na tua boca adormecida,

Perdes-te na noite,

És uma tela vazia,

Branca,

Negra,

A fantasia…

Vejo-te sorrir

Como sorriem as amendoeiras em flor,

Sem nexo,

Sem amor,

Alimentas-te das sombras enfeitiçadas da cidade perdida,

Um petroleiro fundeia no teu peito,

Dá um grito,

E dorme,

Os soníferos morrem,

Como morrem todos os soníferos,

Como morre a noite,

E o rio engole-a,

Come-a,

E foge,

E voa,

E volta a morrer,

Renasce num qualquer jardim dos teus lábios,

Alicerça-se neles,

É firme,

É robusta,

Mas morre como morrem as minhas frágeis palavras…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 14 de Junho de 2015

Vazio cubo de vidro…


Não sei onde habita a navalha de sombra

Que espetaste no meu peito,

Era noite,

Criança melancólica em pedaços de luar,

A vida parece uma roldana,

Sem tempo,

Horário,

Alimentando-se das horas,

Gritando as palavras dos teus lábios,

Em milhões de grãos de areia,

A fogueira no teu cabelo,

A caricia nas tuas mãos que só a madrugada sabe desenhar,

Não sei,

Porque me olha este jardim sem olhar,

Sem corpo,

Imune ao peso,

E ao vento,

Voa,

Sobre os Cacilheiros de prata,

Suicidando-se no Tejo…

Não tenho corpo também,

Sou um rochedo de xisto

Sem destino

Descendo a montanha até ao rio,

Morri…

Oiço-o nas catacumbas da prisão,

Encerraram-lhe as janelas

E o mar

E as árvores com janelas,

E um dia acordará no vazio cubo de vidro…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 14 de Junho de 2015