sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Luar


Sentado te espero
sentado te procuro...
sentado te amo
sentado te abraço,

e não sei se tens forças para me alicerçares ao teu corpo,
tão pouco sei se tens corpo,

sentado te olho
sentado, tu
triste,

sentado te entendo
o que sofres
e o que resistes...
sentado sei que não vais desistir
de cortar os cadeados do sofrimento
nem vais fugir,

(e não sei se tens forças para me alicerçares ao teu corpo,
tão pouco sei se tens corpo),

mas sentado, eu, pego na tua mão e sinto em ti o luar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 26 de Setembro de 2014

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Pássaros sem nome


Tudo em meu redor parece embriagado
os livros
os desenhos
e as palavras
o meu corpo pesado
e os poemas embalsamados
dormem
sobre a secretária
como se fossem um mendigo diplomado
o meu olhar desassossegado
inventa candeeiros de papel
com anéis de tristeza
não existem lágrimas que escondam a madrugada
nem lábios de framboesa que abracem os meus braços de lata
o meu silêncio em greve
o meu silêncio uma videira acorrentada
aos socalcos da dor
o meu corpo ferve como fervem as línguas de fogo que habitam os meus cabelos...
tudo em meu redor morre
as plantas
as árvores...
e os pássaros sem nome.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 25 de Setembro de 2014

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Desilusão


Preciso de sentir-me vivo
escrever não é um sacrifício
uma obrigação
mas preciso
sentir-me vivo
às vezes triste
às vezes muito triste
às vezes alegre...
às vezes... muito pouco alegre
mas preciso de sentir-me vivo
e mesmo que amanhã seja o dia mais triste da minha vida
vou... vou escrever
amanhã vou contemplar a noite tal como o faço todas as noites
amanhã vou fumar o meu último cigarro do dia ao jardim
como o faço todas as noites
esteja triste ou alegre
muito triste
ou... ou desiludido comigo por não ser capaz de...
sentir-me vivo
por não ser capaz de escrever.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 24 de Setembro de 2014