sábado, 6 de setembro de 2014

Acordar


Hoje acordei e nada tinha para te dizer,
dizer-te bom dia... quando hoje está um dia triste, ausente, como tu...
olhar-te sabendo que não queres que te olhe, sentes medo, sentes... cansaço,
hoje acordei,
e também não queria ouvir palavras,
apenas... apenas contemplar-te sem que o percebesses,

Hoje acordei e vi no meu espelho o teu rosto,
confundi-te com uma gaivota,
por alguns instantes... acreditava estar dentro de um sonho,
que ao longe serpenteava o mar no teu olhar,
mas não,
não existe sonho, não existe mar...

Porque acordar... é como se o espelho da verdade ficasse em pequeníssimos grãos de areia...

Hoje acordei...

Sem saber que acordar é fingir que não te vejo!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de Setembro de 2014

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Cidades de papel


Vai nascer uma rua com o teu nome,
que permanentemente habitará dentro de mim,
como habitam outras ruas, outras cidades... cidades de papel,
palavras,
gritos,
lágrimas...

e saudades...!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 5 de Setembro de 2014

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Cidade clandestina


Não há peixes no rio que corre nas minhas veias,
não existem pássaros nas árvores que habitam os meus cabelos,
não,
não há andorinhas nos meus lábios,
nem... nem gaivotas que poisem no meu peito...
há rochedos em mim,
clarabóias com sabor a desejo,
não há mãos que escrevam palavras...
nas páginas cansadas do amanhecer,
não... não há madrugadas pinceladas de beijos,
não há silêncio dentro do meu esconderijo,
estrelas suspensas no tecto da saudade,
não há montanhas de verdade,
nem uma cidade clandestina...
onde possa caminhar sem medo do mar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 4 de Setembro de 2014

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Esta viagem


Esta viagem não terá fim,
a terra que procuro não existe mais,
parecem livros velhos... parecem jornais,
semeados na lareira do sofrimento,
esta viagem é uma guilhotina de insónia,
esperando a noite,
esta viagem é uma rua sem saída...
onde habitam telhados de incenso,
essa terra... essa terra envelheceu,
e esta viagem embrulha-se no vento,
grita às encostas graníticas sílabas com doença,
sílabas dentro de um saco de napa vestido de Céu...
esta viagem desassossegada,
quando se confunde com a madrugada,
essa terra magoada...
no olhar das serpentes em silêncio,
esta viagem desterrada,
sem porto para aportar,
e aquele mar... e aquela terra íngreme que ficou encaixotada,
esta viagem marginal correndo em direcção ao nada,
rochedos, auroras boreais, e outros medos,
e tantos mais...
essa terra,
esta viagem,
este corpo sem correntes,
este corpo sem misericórdia...
que não cessa de ranger,
e tantos mais... esta viagem que parece aos poucos morrer!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 3 de Setembro de 2014

terça-feira, 2 de setembro de 2014

não não o quero


não o quero
porque existe um labirinto de vespas nas asas do silêncio
sabendo que sou um coitadinho
mendigo diplomado
não não o quero
não o quero junto a mim
prefiro a solidão
prefiro a noite com correntes de sisal
não quero
ser o que nunca fui
parecer o que não sou...
não o quero

não

não o quero
suspenso no meu portão
viciado...

lânguido imaginário das arcadas em flor
iluminado
talvez
não
não o quero
não o quero junto a mim
triste
enfezado
enforcado numa corda invisível
não
talvez
talvez não o queira

junto a mim
assim...


só a brincar com um arame de vidro


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 2 de Setembro de 2014