foto de: A&M ART and Photos
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porque me procuram nas incendiadas
sanzalas do prazer
não sendo eu um homem como os homens
das bandeiras embriagadas
porque me procuram nas entranhas manhãs
de cacimbo
eu escondido no zinco telhado do
musseque alvorado
porque sou assim
um casebre sem esqueleto e ignorado
um imbecil que em tudo acredita
e que procuram como se fosse um objecto
para reciclagem
usa-se
deita-se fora
e nasce em ti o dia ensanguentado das
tristezas noites junto ao Mussulo
porque sou um um monstro vestido de
negro
(como o dizem quando me chamam
e acordam
em todos os silêncios do medo...)
porque finjo que sou amado
porque acredito eu no amor
quando o amor é uma caravela à deriva
no triste Oceano
porque me procuram nas incendiadas
sanzalas do prazer
porque sou um canino disfarçado de
desenho animado
porque me dizem que sou um poema odiado
palavras da merda escritas por um gajo
de merda
porque acredito
se nunca deveria acreditar nas manhãs
sem nuvens
porque são falsas
e logo em seguida
ejaculam as gotinhas amargas da
chuvinha colorida...
(como o dizem quando me chamam
e acordam
em todos os silêncios do medo...)
sou um gajo porreiro como o são todos
os cadáveres da morgue do púbis amanhecer
porque sou um imbecil sentado num banco
de jardim
espero as ripas madres em madeira
apodrecida
finjo que sou amado
e todos o sabemos que não o sou
porque apenas pertenço aos corpos
dilacerados
dos musseques adormecidos
doridos
mórbidos entre as espadas dos livros
em poesia
e as palavras semeadas nas tuas coxas
de terra fértil...
esperam as sementes da alegria
como se fossemos apenas vozes
entrelaçadas como dedos em vaginas acorrentadas às sílabas
inanimadas...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 16 de Novembro de 2013