foto de: A&M ART and Photos
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Desiludido com o amor,
“o que é que eu faço?”
Ele vivia preocupado com as cavernas que o tempo
tecia no seu corpo transparente de pedra invisível, tinha sempre na
algibeira o livrinho e que apelidava
“o livrinho dos sonhos”
Um dia, sem razão explicável, ele, o abstracto
homem dos passos trocados, perdeu “o livrinho dos sonhos” e desde
então, nunca mais houve sonhos nele, tinha terminado a vida cansada
da cartilha encarnada, vivia o dia acreditando que não regressaria
no final da tarde, depois acordava a noite, depois a noite comia-o e
ele continuava vagueando como uma gaivota sem sexo nas avenidas dos
tristes corações de areia,
“o livrinho dos sonhos”
A lareira incendiava-se como dois clandestinos
corpos em combustão periódica dentro do cobertor do desejo, havia
bandidos solitários que chegavam até nós do rádio esquecido sobre
a cómoda, o bandido tresloucado que tinha uma bala no canhão, oiço
“o diabo”
“o bandido solitário só faz folga para foder”
Havia bandidos solitários que chegavam até nós do
rádio esquecido sobre a cómoda, “o bandido tresloucado que tinha
uma bala no canhão”, oiço os gemidos da prisão do amor, oiço o
teu colorido corpo embainhado nas árvores apodrecidas das madrugadas
em marés flutuantes na cumplicidade dos lençóis às riscas
amarelas com pontinhos brancos, os bandidos solitários
“o bandido solitário só faz folga para foder”
Desiludido com o amor,
“o que é que eu faço?”
Ele vivia preocupado com as cavernas que o tempo
tecia no seu corpo transparente de pedra invisível, tinha sempre na
algibeira o livrinho e que apelidava “ o livrinho dos sonhos”, e
dizia-me constantemente entre dentes que me amava e era louco por
mim, e percebi que o amor é uma rosa que depois murcha, as pétalas
secam, e a “tu cuerpo me llama” e sou absorvido pelos teus doces
olhos, e eu
Desiludido com o amor,
“o que é que eu faço?”
Os bandidos solitários comem-se como salteadores
dos bares nocturnos de uma Lisboa envenenada pela solidão das ruas e
dos imperfeitos candeeiros que escondem sonâmbulas Margaridas com
pálpebras em papel, sou uma destemida ponte com saia aos quadrados,
sou uma mão que acaricia os teus seios de Luar e acabas de sair do
“livrinho dos sonhos”, doce e linda como as manhãs de orvalho
entranhadas na neblina lareira do desejo, como quem sai de um livro,
a personagem eterna das noites em combustão,
“o que é que eu faço?”
Acaricia-lhe os cabelos ondulados de montanha
endiabrada... o interior, claro. não vivo de aparências. que me
interessa ter a casa mais bela da cidade. se no seu interior nem
divisões tem?
E tu, personagem acabada de nascer?
Eu, eu o quê?
Eu, eu disfarço-me de cidade e morro nas tuas mãos
de poeira.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 16 de Novembro de 2013
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