segunda-feira, 17 de junho de 2013

Em fatias poéticas, dentro de dois pedaços de papel

foto: A&M ART and Photos

Gosto da tua amizade, precisamente, pela tua franqueza e sobretudo optimismo, claro que é bom regressar a Lisboa, e treinar a caligrafia para prováveis autógrafos, ainda melhor,
Enquanto lia o teu coração, lembrei-me de um Livro de José Luís Peixoto “Dentro do Segredo”, sobre a viagem que ele fez à Coreia do Norte, autógrafos, fazem-me lembrar os Norte-Coreanos, e claro, todos eles são muito baixinhos, agora, imagina tu, que eu imaginei, que enquanto autografava um livro, aparecia-me uma Norte-Coreana, puxa a t-shirt e diz-me
Quero um autógrafo no meu seio esquerdo,
Boa, penso eu, e agora? E Agora Francisco?
Pego na caneta, e tremulamente, escrevo... Francisco Luís Fontinha, com amizade, e claro, ela sorriu, e foi-se embora…
E nunca mais utilizarei a minha caneta de tinta permanente, apenas um corpo poético consegue sobreviver às palavras, apenas este corpo consegue embrulhar-se entre a poesia e o sonho, ou entre a noite e a madrugada..., às vezes, entranha-se no prazer, e voa, voa como uma gaivota desgovernada
E agora, Francisco? E agora? Que faço com este corpo poético, literário e desejável? Transformar-se-á em palavras, no verdadeiro poema? Ficará corpo de mulher com formato de livro, terá mãos para me acariciar o rosto desgrenhado pelos socalcos do Douro? Terá olhos, pálpebras e lábios para me beijar? E agora... Francisco...
Gosto, do autógrafo semeado na areia molhada da feliz gaivota desgovernada, gosto da tua pele misturada em melódicos sons embainhados dentro da manhã, ela dança, e mexe-se com a ligeireza de uma andorinha em pequenos círculos, perguntas-me
Qual é o perímetro de um círculo, sei, mas simplesmente não me apetece responder-te, perguntar-te-ia, para que desejas saber o perímetro de um velho círculo, imobilizado pelo gesso do hospital, alguns dos ossos não sobreviveram às rotações em redor de uma eira granítica, e no seu centro de massa, o canastro, o milho, o teu
Corpo?
Em fatias poéticas, dentro de dois pedaços de papel, açúcar sobre a pele complexa dos cansaços à beira rio, e em dolorosos soníferos entram e saem barcos de ti, imaginava-te um socalco esculpida na montanha com acesso ao rio Douro, imaginava-te a tal Norte-Coreana,
Quero um autógrafo no meu seio esquerdo,
Boa, penso eu, e agora? E Agora Francisco?
Pego na caneta, e tremulamente, escrevo... Francisco Luís Fontinha, com amizade, e claro, ela sorriu, e foi-se embora…
E
E ainda...
Corpo?
E ainda hoje não entendo muito bem as t-shirts que enrolam corpos poéticos, literários e afins...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Sem saber o que fazer

foto: A&M ART and Photos

Caleidoscópio teu olhar
perfurando sílabas e algas com sabor a mar
erguendo-se de ti a manhã decalcada na sombra do luar
às penumbras horas prisioneiras em teus seios de cristal,

Oiço em ti a perfumada rosa acabada de nascer
correndo quintais de areia sem o saber
birras de uma criança quando aprende a ler...
e oiço-o contra a minha solidão suspensa nas páginas de um velho jornal,

Sinto o meu rosto estampado num muro em betão
oiço-o cantar e sofrer nas palavras canção
é ele o indesejado nobre meu coração
inventando pedaços de algodão no silêncio pedestal,

O meu corpo em crepe papel
lutando nas correntes de ar argamassadas do fingido cordel
que a boca sobeja e morre na pele...
morre crucificado o esqueleto de metal.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha