sábado, 20 de outubro de 2012

Beijos de café com natas


As rosas envenenadas que se escondem nas palavras
escritas
em todas as madrugadas
entre espinhos e bocas aflitas

as rosas de ti
que os lábios em beijos de café com natas
deambulam circularmente nas raízes dos pássaros com asas de xisto
voando clandestinamente sobre os socalcos do cansaço

mergulham no rio
e desaparecem na musicalidade poética dos beijos
vêm tristemente apaixonadas as palavras
que a noite esconde na algibeira dos cigarros encostados às cinzas das árvores solitárias

erguem-se em mim de ti algumas sílabas amargas
desejando voar nos teus olhos com silêncios de mar
e cubos de vidro
com janelas de amêndoa e portas de gelo

e o Douro em milhões de cores
vive sofregamente nas encruzilhadas das imagens
negras que da garganta do poema
alimenta docemente os pilares de aço da saudade.

(poema não revisto)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O pergaminho do desejo


As moléculas fantasiadas de amor
em toques superficiais no pergaminho
que as manhãs constroem
debaixo da paixão,

enfurecido
o orvalho poisado na pele elegante da dor
que as plantas do teu olhar
transpiram em fios de medo,

pego nos sonhos
e semeio-os nas áridas coxas do inferno
quando todos os relógios de pulso
dormem docemente na maré sem luar,

e finjo adormecer
nas lágrimas do desejo
que brincam nas finíssimas películas
das moléculas fantasiadas de amor...

(poema não revisto)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Círculos de vento


Hoje perdi definitivamente a alegria
de abraçar os olhos da lua
e de todas as estrelas que viviam
no tecto da minha solidão
à procura da saudade
nas planícies sem destino,

queimei todos os livros
e os cortinados da infância
na lareira que sobejou da viagem ao fundo do rio,

hoje sem perceber a claridade
dos relógios suspensos nas paredes da sala de jantar
as fissuras de chocolate em crucifixos cansados
das amêndoas amargas na noite dos poemas
as árvores doentes poisadas no meu sorriso fingido
de avião sem motor
redopiando os círculos de vento
sobre as clareiras da doença,

tão frágil o esqueleto do tempo
com a voz melancólica
do poeta sem vida.

(poema não revisto)