quarta-feira, 6 de junho de 2012

deixei de folhear-te como ontem o fazia



deixaste de acordar nas minhas mãos
e nunca mais peguei em ti
deixei de folhear-te como ontem o fazia
e hoje odeio-te
como na semana passada

deixaste de acordar
nas minhas mãos iletradas
e dos dias que morrem no calendário de parede
o esquecimento ganha forma e cresce de ti

aos poucos
odeio-te
aos poucos
deixei de folhear-te

hoje
hoje olho-te indiferente
sem o prazer de tocar-te
ou ler-te
ou simplesmente olhar-te

não quero saber de ti
e de todos os livros da minha biblioteca
que vivem desassossegados ao teu lado

odeio todos os livros
e todas as palavras
e todos os vidros da janela da noite.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

na minha mão quando partir para longe



Quero que sejas o rio
invisível onde me sento todas as noites
a olhar os barcos ensonados
a fumarem o último cigarro da maré

quero que sejas o perfume da rosa
que toco docemente ao acordar
onde escrevo o primeiro poema da manhã

quero
os barcos ensonados
na minha mão quando partir para longe
e levar comigo as sombras do teu cabelo
para me orientarem nos azimutes da ressurreição

quero que sejas o rio
invisível
a olhar os barcos ensonados
à espera do último cigarro da maré