Não sei se me perdoarás
de todas as merdas que te fiz
Mas era difícil ser
diferente
Sempre fui diferente
Para ti
Não
(a merda de um filho
nunca cheira mal…, disseste-me tantas vezes…)
Não e talvez sim
Quem sabe
Um dia
Eu voarei,
Sobre o teu cabelo
ausente
No esplendor branco
invisível
Que quando nascia o sol
Brilhava como uma rocha
de mármore cinzento…
Depois…
Depois contávamos estórias
de mentira
Eu, prometia-te
Tu, que estavas muito bem
Eu, mentia-te e que
estava tudo bem
Tu, mentias-me que estava
tudo bem
Quando
Nada
Nada estava bem.
Ausente sempre o fui
De mim
De ti
De todos
De toas as coisas
visíveis e invisíveis…
Aí está
DEUS…
O teu deus
Pequenino
Mesquinho
Arrogante
Sim
Sim
Quando chovia… corríamos
em direcção ao capim.
E éramos felizes
Felizes
(e falta-te aquele toque
feminino da beleza)
O capim
Morreu com o estilhaço de
uma granada
Tu
Estás no teu altar-mor e
que não passas de uma foto
Nada mais do que isso
E eu
Procuro aquela cidade
A cidade do encanto
Do cheiro
Da terra quando cheirava
a terra…
Queimada.
Não sei se me perdoarás
E tão pouco estou
preocupado
Se perdoaste ou não perdoaste
De toda as merdas que te
fiz
Quero lá saber de Santa
Apolónia
Do Cais do Sodré
(e agora marchava)
Em direcção ao nada
À cidade perdida
No espaço
Na algibeira de um transeunte
Ausente
Sem ninguém…
E no entanto
Tudo perdoaste.
Tudo.
Coitado do magala
Escreve lágrimas em
cartas sem remetente
Fotografa com o olhar
todos os barcos que entram e saem da barra
E fuma compulsivamente
qualquer coisa esquisita
E sabes?
Não interessa
Tu sabes tudo,
Um dia
Eu voarei,
Sobre o teu cabelo
ausente
No esplendor branco
invisível
Que quando nascia o sol
Brilhava como uma rocha
de mármore cinzento…
20/09/2023
Luís