quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Feitiço

 Tens no olhar o feitiço incêndio das amendoeiras em flor

Que aprisiona

Que afugenta

As marés sem madrugada,

Feitiço

Coisas de quase nada

Tens no olhar o feitiço invisível da insónia menina

Que brinca no jardim

E saltita por entre as flores

Tens no olhar o feitiço

Primeira página de um livro

Primeira palavra de um poema…

 

Tens em ti o feitiço

De um simples olhar

Na equação complexa do desejo

Tens no olhar o feitiço beijo

Quando a manhã desenha sorrisos

Nos vidros da paixão,

 

Tens no olhar um sorriso

Um feitiço beijo no feitiço sorriso do teu olhar…

Tens no olhar a claridade do dia

Sem nuvens

Com sol

E ao longe

A lua que olha…

O feitiço do teu olhar.

 

 

20/09/2023

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Incenso

 Pincelo o teu olhar

De doce insónia

Pincelo o teu doce olhar

Com os primeiros pingos de chuva

Que a manhã esconde

Em sua mão

 

Pincelo o teu olhar

De puro silêncio adormecido

Da noite em despedida

Em despedia aflita

Quando a noite se perde

No teu olhar

 

E gravita

E grita

O teu olhar pincelado

Com muitas cores

Com muitos sorrisos

E flores

 

Pincelo o teu olhar

Com a luz que se ergue das profundezas da terra

Da água salgada

Na planície que apelidam de mar

 

E do mar

O teu olhar em pedacinho de doce pincelado

Com perfume de sonhar

Vezes sem conta em pequenas deambulações

Pincelo o teu doce olhar

Quando acorda o dia

E sei que o dia

É apenas uma lágrima de incenso

 

 

19/09/2023

Sábado

 De todos os dias

Aquele dia

Daquele sábado

Daquela triste noite

 

Sem lua

 

De todos os dias

Aquele triste dia

Sem noite

Sem dia

Sem estrelas

Sem poesia

 

Tão triste

Aquele dia

Do outro qualquer dia

 

De todos os dias

O teu dia

Triste dia

Triste noite

Sem o dia

Sem a noite

 

De todos os dias

Um outro qualquer dia

Tanto faz

Todos os dias

São dias

Uns com dias

Outros

Perdidos nos dias

 

 

 

19/09/2023

O guardião

 Sou guardião do teu olhar

Ó salgado mar!

Sou guardião do teu olhar

Sou pedaço de palavra que brinca com o luar

Sou estrela que não se cansa de brilhar…

Do teu doce olhar,

 

Sou guardião do teu olhar

Sou maré infinita

Manhã faminta

Sou árvore sonolenta

Que dança ao silêncio do vento

Que lamenta o invisível sorriso

Da sombra ferrugenta.

 

 

 

19/09/2023

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Cazaquistão

 Do Cazaquistão, nada de novo.

O tonto continua tonto

Tolo

E burro.

Do Cazaquistão, nada de novo.

Nem flores

Nem amores

Quanto mais Doutores.

Por aqui

Dentro de momentos

O recomeço do nosso espectáculo

A ceia

E dormir.

Coisa alguma.

Do Cazaquistão, nada de novo.

A não ser o tolo que eternamente será tolo.

Tudo igual como a lesma

Na mesma

Ao outro dia

Três drageias e meia

Ao deitar

Sobre o sono

Uma almofada.

 

Do Cazaquistão, nada de novo.

O nosso capitão morreu

O nosso barco

Ardeu numa noite de neblina

Nada de novo,

Nada de novo enquanto a noite não termina

Acorda no Cazaquistão,

E nada,

De novo.

Do Cazaquistão, nada de novo.

Nem árvores

Nem vento vestido de árvores

Sem o saber

Bebeu

Nada de novo,

Por aqui,

Coisas nenhuma,

Do Cazaquistão, nada de novo

E estamos todos bem,

Estamos felizes,

Por aqui…

Dentro do Cazaquistão, nada de novo.

Três drageias ao deitar,

Meio copo de leite com saudade…

E novamente dia

E novamente acorda o Cazaquistão.

 

 

 

18/09/2023

Francisco

A esta hora

 A esta hora milhões de coisas acontecem

Milhões de corpos se saciam na sombra do desejo

Milhões de pássaros

Voam sobre o mar

A esta hora

Milhões de coisas acontecem

Milhões de estrelas morrem

Milhões de estrelas nascem

Milhões de coisas

Ou coisas de milhões alguns

Milhões de luas

Milhões de planetas

De cores em milhões

 

A esta hora

Milhões de beijos acordam

Milhões de bocas comem

Milhões de olhos choram

A esta hora

Milhões de tostões

Que roubam a hora do milhões

A esta hora

Milhões de mãos se entrelaçam

Milhões de casas dormem

Milhões de casas acordam

A esta hora

 

Milhões de crianças sofrem.

 

 

18/09/2023

Francisco

domingo, 17 de setembro de 2023

Código binário

 Escrevo no teu peito o postulado da equação de Deus, na revolta dos teus seios em direcção ao exército da insónia, recordo a primeira equação da equação de Deus, e como poderei esquecer, se a escrevi no teu seio esquerdo, e como poderei me esquecer da integral do desejo, depois de elevar a raiz cúbica da paixão, à decima quinta potência de Zeus, perceber que pouco ou nada restou, a não ser, que tudo, mas tudo mesmo, é apenas a unidade.

O uno.

O uno divisível, que mesmo dividido em milhões de pedacinhos, será sempre o uno, o homem, o filho de Deus.

Escrevo no teu peito e de alguma coisa me vou esquecer.

Esqueci o teu nome, quando o escrevi milhares de vezes no folheto do meu coração, esqueci os teus olhos, o teu cabelo, sem cabelo, do vento, ao vento, entre mim e as primeiras lágrimas da manhã

Depois, traçamos uma recta de (A) até (B), e da equação dessa recta multiplicamos a integral solucionada na tarde passada,

Pifou, o gajo.

Escrevo no teu peito, SOCORRO, como se estivesse a ser perseguido pela revolta das enxadas do nosso querido Douro,

Oiço-os, sinto-os, lá longe, muito longe

Todos aqueles que morreram no Douro.

Escrevo no teu peito o postulado da equação de Deus, percebo que é complexa, percebo que este meu pobre computador nunca conseguirá encontrar uma solução, a não ser…

Voar sobre o mar.

E morrer no mar.

Escrevo no teu peito a sinceridade da noite, que aos poucos se entranha nos ossos, como lâminas de geada, como saliva misturada com aparas de madeira, o lápis sobre a mesa, a folha movimenta-se, eu escrevo no teu peito, o lápis esconde-se na minha mão, e tu,

Dormes sobre mim.

Escrevo no teu peito a maré que regressa, do Deus que se afasta, e me persegue enquanto não lhe resolver a equação,

Pifou, o gajo.

Voar sobre o mar.

E morrer no mar.

Escrevo no teu peito o postulado da equação de Deus, na revolta dos teus seios em direcção ao exército da insónia, recordo a primeira equação da equação de Deus, e como poderei esquecer, se a escrevi no teu seio esquerdo, e como poderei me esquecer da integral do desejo, depois de elevar a raiz cúbica da paixão, à decima quinta potência de Zeus, perceber que pouco ou nada restou, a não ser, que tudo, mas tudo mesmo, é apenas uma sombra abraçada à unidade; somos apenas Zeros e Uns. Somos código binário.

 

 

17/09/2023

(Ficção)