sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Cavaleiro

 

À primeira lágrima da manhã

Sai de mim a tristeza

Entra no meu corpo o silêncio da alegria

Caravela quinhentista

Cavaleiro das sete espadas subindo a montanha,

À primeira lágrima da manhã

Cresce no meu jardim o poema

Que dança sobre o mar,

E corre e corre

E ninguém o apanha,

À primeira lágrima da manhã

Sai de mim a tristeza

Entra no meu corpo o silêncio da alegria

Que a primeira lágrima da manhã

Desenhou no rio que corre na minha mão.

 

 

 

11/08/2023

Sombra

 Esqueço

Os teus olhos de mar

E os teus lábios de mel

Esqueço-te e abraço o luar

E desenho o luar…

Neste pequeno papel,

 

Esqueço

O teu cabelo de vento,

Esqueço as tuas mãos de encanto… que também elas me esquecem

Esqueço-te sem saber se consigo esquecer-te

Sem saber…

O significado de esquecer.

 

Esqueço

Os teus olhos de mar

E os teus lábios de mel

Esqueço o teu rosto no meu silêncio

Quando a paixão se esquece

Que eu tenho que te esquecer.

 

11/08/2023

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Do ausentado poema o poeta da ausência


 

Podia vestir-me de miséria

Ausentar-me deste silêncio

Que ninguém percebia a minha ausência…

Que ninguém percebia que andava ausentado,

 

Podia vestir-me de miséria

Podia pincelar os lábios de azul-mar

Podia beijar a lua

E beijar o sol

E abraçar o mar,

 

Podia vestir-me de miséria

Ausentar-me deste silêncio

Podia escrever nas paredes da minha solidão…

Que ninguém leria o que tinha escrito,

 

Que ninguém percebia

Que a minha poesia

Não existe

Que sofre e resiste

À minha ausência

Que ninguém percebia que andava ausentado.

 

 

10/08/2023

Manhã

 

Ergue-se sobre mim

A espada que o silêncio desenhou neste triste acordar

Erguem-se dos braços destas árvores

Que brincam no meu jardim

Os segredos do mar,

 

Ergue-se sobre mim

A manhã vestida de negro

Metáfora que o vento sabe esconder

Com tristeza e apego

As longínquas palavras de escrever,

 

Erguem-se e morrem sobre mim

As flores

Cadáveres em papel

Crianças de brincar

Erguem-se sobre mim… as lágrimas do luar.

 

 

10/08/2023

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Esconderijo do silêncio

 Podíamo-nos esconder dentro deste cubo de silêncio

Que alimenta a noite

E que da noite,

Levanta voo dos teus olhos de mar.

 

Morres-me quando as gaivotas fogem do teu olhar

E constroem sobre o prado verdejante

As primeiras lágrimas que a manhã vomita.

Embriagado seja

O sono

Quando me morres

Depois das pequenas coisas

Despertarem pela madrugada.

 

Morres-me quando dentro deste cubo de silêncio

Que se abraça à noite

Zarpar deste porto sem nacionalidade

Destas mãos que se cansam de viver

Nesta vida de enganos,

O meu teu corpo moribundo,

 

Esperando a morte,

Às vezes,

Desejando a morte,

Quando se esconde nos teus lábios de mel.

 

Morres-me quando deixo sobre este papel

As madrugadas das estrelas de cartolina,

Morres-me quando me alicerço à manhã…

E procuro na manhã,

O que nunca vou encontrar;

Um pedaço de chocolate com sabor a saudade.

 

 

 

09/08/2023

Caixão

 



Pego neste caixão

Quatro pedaços de papel

(qualquer coisa serve, para acomodar os meus ossos)

Quatro tábuas

Em combustão

Pego neste caixão

E visto-me de Primavera

Quatro pedaços em cartão

Ao cair da noite

 

Abraço-me a este caixão

E percebo que os meus braços são ausências de silêncio

São pequenos quadrados de terra

Que cobrem o meu caixão

 

Pego neste caixão

Com a minha mão

Caneta invisível

Que a noite come

Que me come

Enquanto eu não dormir

Neste cansado caixão

 

 

 

Alijó

09/08/2023