Absorto o meu corpo
às árvores sem dentes
na boca um poema morto
nas mãos o perfume das madrugadas ausentes
(escrevem-me sem palavras
textos nas pálpebras da noite)
e oiço a voz do medo
dentro do guarda-fato
o meu corpo
absorto
amanhã cedo
cansado e farto
Absorto o meu corpo
às árvores sem dentes
morto
absorto
os pássaros disfarçados de barcos amargurados
suspensos nas nuvens do Tejo
morto
o meu cadáver em linha recta
duas linhas rectas paralelas
passeando pelas ruas de Lisboa
o infinito
os bares onde gajas boas
dormiam e fingiam orgasmos sobre as mesas de cabeceira
entre Cais de Sodré
e a Ajuda
ajuda coisa nenhuma
apenas um empecilho na algibeira
e meia torrada ao pequeno almoço
sem jeito
eu
morto
absorto
no declínio do amanhecer...
(poema não revisto)
sábado, 25 de agosto de 2012
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
A casa das estrelas com olhos verdes
Conheci uma casa
onde habitava uma estrela
louca
com olhos verdes
e deliciosa boca
era uma casa pintada de silêncio
e via-se da calçada
o rio à sombra da noite
e quando chovia
e quando chovia
a casa voava sobre o mar
e ao deitar
o amor poisava
sonhava
que acordasse o dia.
onde habitava uma estrela
louca
com olhos verdes
e deliciosa boca
era uma casa pintada de silêncio
e via-se da calçada
o rio à sombra da noite
e quando chovia
e quando chovia
a casa voava sobre o mar
e ao deitar
o amor poisava
sonhava
que acordasse o dia.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
terça-feira, 21 de agosto de 2012
todos
Os homens que correm entre os carris da dor
na esperança que o comboio da solidão
que curiosamente anda sempre atrasado
na esperança
que os silêncios dos lábios amargos da noite
poisem docemente sobre as abelhas do tesão
quando do púbis do amor
um dos homens se transforma em telemóvel
descartável
e recarregável
e do húmus
o corpo do homem roça-se numa esquina de esperma
os homens
perdidos nas garrafas de vodka
que os marinheiros dos sonhos
deixaram no cais da saudade
e os barcos de papel arderam quando acordou a lua
e as mulheres sem coração
espreitaram à janela
juras finíssimas de amor
nas mortalhas da Calçada da Ajuda
e os pombos comiam-me as palavras do caderno preto
e os pombos
entre os carris e os homens e a dor e o comboio da solidão
todos.
Todos engasgados no corpo do homem travestido de telemóvel
com os braços de madeira
e as pernas construídas com as gotinhas de esperma
que sobejaram da esquina da morte...
(É isto a vida?)
na esperança que o comboio da solidão
que curiosamente anda sempre atrasado
na esperança
que os silêncios dos lábios amargos da noite
poisem docemente sobre as abelhas do tesão
quando do púbis do amor
um dos homens se transforma em telemóvel
descartável
e recarregável
e do húmus
o corpo do homem roça-se numa esquina de esperma
os homens
perdidos nas garrafas de vodka
que os marinheiros dos sonhos
deixaram no cais da saudade
e os barcos de papel arderam quando acordou a lua
e as mulheres sem coração
espreitaram à janela
juras finíssimas de amor
nas mortalhas da Calçada da Ajuda
e os pombos comiam-me as palavras do caderno preto
e os pombos
entre os carris e os homens e a dor e o comboio da solidão
todos.
Todos engasgados no corpo do homem travestido de telemóvel
com os braços de madeira
e as pernas construídas com as gotinhas de esperma
que sobejaram da esquina da morte...
(É isto a vida?)
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