quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Os gemidos da Marilú

Cansei-me de ser enrabado e nem um Ai me é permitido prenunciar, e que saudades da Marilú que das águas furtadas da Ajuda escrevia orgasmos no sorriso de petroleiros e cacilheiros e ainda tinha tempo de poisar a mão sobre os carris em direção a cascais,
- É para hoje oh Filho?
Cansado de ser enrabado e nem sequer um pequenino Ai de prazer posso prenunciar, não posso porque ainda aparece alguém a apelidar-me de Piegas, Lamechas ou de Coitadinho, e coitadinho nunca fui, e de Piegas só conheço os gemidos da Marilú dançando nas águas furtadas
- E claro que é para hoje Porque se não fosse para hoje não estava aqui,
Sobre a mesa-de-cabeceira, e do espelho, e do espelho as palavras que no final do dia, mesmo entre o fim de tarde e princípio da noite, começavam a acordar nas minhas mãos enquanto em Cais de Sodré um homem triste e cansado e desiludido, Piegas não, e desiludido segurava uma garrafa de vodka e pegava nas palavras, e pegava nas palavras como se fossem grãos de pólen, Coca? Qual Coca sua parvalhona, Pólen simplesmente Pólen, e em silêncios de nada semeava-as nos lábios dela,
- Da garrafa de Vodka?
Quem falou em garrafa de vodka? Uma pessoa descuida-se um pouco e vocês logo em parvoíces, só bastou cruzar os dedos, só bastou olhar para a janela porque o mar estava a chamar-me, e pimba, Piegas,
- Há cada Canhão!!!! Uma garrafa de vodka com lábios… e já agora os orgasmos da Marilú tinham asas, e já agora vou ter de emigrar, e já agora
Engraçado, se não tivessem asas como chegavam aos petroleiros, se não tivessem asas como chegavam aos cacilheiros, e se não tivessem asas como poisavam os orgasmo a mão nos carris para cascais,
Claro que tinham asas, e já agora que estamos a falar de asas, sabes uma Coisa? Não não sei, O que é ser Piegas?
- Não sei Mas deve ser alguém muito importante, Porque se não fosse importante não falavam nele,
Nele ou nela?
Pólen simplesmente Pólen, e em silêncios de nada semeava-as nos lábios dela,
- Da garrafa de Vodka?
Cansei-me de ser enrabado e nem um Ai me é permitido prenunciar, alguém a apelidar-me de Piegas, Lamechas ou de Coitadinho, e coitadinho nunca fui, e de Piegas só conheço os gemidos da Marilú dançando nas águas furtadas, e dançava e dançava e dançava…

(texto de ficção)

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Pergunto-me

Quando o mar cessar nas paredes do meu quarto estarei eu morto? Pergunto-me antes de adormecer,
Pergunto-me se deus é feliz sentado numa cadeira e me olha, pergunto-me se o mar deixar de me visitar
- O que será de mim? Pergunta-se ele antes de adormecer,
Sentado numa cadeira e me olha e sorri, e eu, e eu pergunto-me antes de adormecer
- Quando o mar cessar nas paredes do meu quarto estarei eu morto?
E sorri quando me olha,
Pergunto-me e canso-me de lhe perguntar.

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ossos


84,4 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha


Duzentos e seis ossos
Desgovernados
Esfomeados
Cansados

Duzentos e seis ossos
Desiludidos
Esmigalhados
Fodidos…

Duzentos e seis ossos
Presos a um cordel
Nos céus de Luanda
Ossos e ossos e ossos

Poeira misturada com mel
E eu pergunto-me Afinal quem manda?
Duzentos e seis ossos e ossos e ossos
Sentados à varanda

E eu vendo os meus ossos
(observações)
Vendo os meus ossos a pronto pagamento
E não aceito euros
Nem cheques (Só Dólares)
Vendo os meus duzentos e seis ossos
E ainda ganham de prémio um jumento…