terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Às flores vencidas

foto de: A&M ART and Photos

Às flores vencidas
aos pilares de areia das tardes perdidas
às árvores emagrecidas
e aos rios condenados
tristes
tristes e apaixonados
aos sorrisos de algodão
e às lágrimas de porcelana
às flores envelhecidas que ressuscitadas insistes
e ignoras
e choras...
a madrugada das persianas embaladas,

(às flores vencidas
e aos cansaços amores do invisível desejo)

Às flores vencidas
que se escondem em jardins com janelas encardidas
aos pássaros de marfim com ossos desventrados em marés esquecidas
e aos silêncios com palavras escritas em paredes de xisto
e tu não percebes os sonhos com coloridos quadrados e círculos nocturnos
e desisto
de procurar os lábios da Garça sem graça... nas ruas de Lisboa
descendo a calçada endiabrada comendo rebuçados de voláteis cigarros de chumbo...
às flores enroladas em trigonométricos fumos
que morrem na cidade das esplanadas de vento
com sofrimento
a vós, a todos vós que têm corações de pano e beijos de chita...

(às flores vencidas
e aos cansaços amores do invisível desejo)


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 25 de Fevereiro de 2014

Cenas da NET

Cenas da NET: Poema de Francisco Luís Fontinha – Sapo Angola – Blogue Cachimbo de Água.

A rosa embalsamada


Sento-me nas esferas anacrónicas dos beijos de papel,
sinto o perfume cansado de uma rosa embalsamada,
ela dorme dentro de um poeirento livro,
e chora e sofre... e sonha,
sento-me e percebo que sou um pedestal sem mágoa,
um triste infeliz construindo barcos de esferovite,
sinto-me aprisionado aos tanques de marfim onde mergulhavam os meus bonecos de criança,
e sei que lá fora, quando cai a noite sobre o capim...
chora,
a cobra de quatro cabeças,
a longa esferográfica perdidamente apaixonada por mim...
que loucamente inventa palavras, círculos... e quadrados com olhos de insónia.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 25 de Fevereiro de 2014