Amanhece nos teus lábios
Um corpo de linho.
Suspenso numa cama
inventada pelo desejo,
Acaricio-te suavemente e
com medo de te acordar
Do sono alicerçado na
madrugada.
Oiço-te gemer em
pequeníssimas sílabas de silêncio,
E de dentro do vento,
Um lençol de espuma,
branco entre soníferos de alegria,
Abraço-te; tenho medo de
magoar o teu corpo de porcelana,
Quando desce a montanha,
em direcção ao rio…
Uma enxada trabalha
arduamente na sombra dos socalcos envenenados
Pelo apito do comboio
embriagado,
E, ao fundo, o túnel da
solidão escorrendo um líquido viscoso, sem cor,
Derramado nos trilhos dos
animais nocturnos
Onde habita o teu
sorriso.
Espero. Canso-me de não
te ver,
E, quando te vejo, nua
como todas as luar nocturnas,
Escrevo-te,
Desenho-te,
Simplesmente te abraço.
Amanhece nos teus lábios
O sorriso de menina
adormecida,
Ensonada como todas as
vírgulas
No texto impregnado de
estórias…
Acorda em nós a insónia.
Madruga o poeta nas
ruelas do engate,
Escreve versos,
Prostitui-se nas palavras…
E dorme no teu peito; não
sofro, meu amor,
Porque os teus olhos são
estrelas de papel…
Dançando no Universo.
Acordas-me.
E todo o sonho não passa
de uma mentira
Para me afastar de ti.
Corro.
Beijo-te.
Sabendo que amanhã é
Domingo.
E todos os versos serão
teus.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 8/08/2020