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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

a jangada com olhos castanhos

foto de: A&M ART and Photos

trazias nas mãos uma jangada com olhos castanhos
cansavas-te com o olhar das crianças
e dos pequenos botões de rosa

trazias dentro de ti um cubo de faces rosadas
dos pobres lábios ensanguentados pelo bâton uma lâmina de tristeza
absorvia a tua boca enlatada
como uma conserva
esquecida numa qualquer prateleira da despensa

sentia-te vociferar debaixo do sombreado fantasma
agarrado a uma pétala fotográfica
e a preto-e-branco
o fotografo vestido com sais de prata
alicerçava os pobres desejos da madrugada

(trazias nas mãos uma jangada com olhos castanhos
cansavas-te com o olhar das crianças
e dos pequenos botões de rosa)

e sabia-te enlouquecida quando te embrulhavas nas marés de areia
e corrias
e brincavas num corredor longo e estreito e alto
choravas parecendo a chuva desencadeada pelos sorrisos adormecidos
dos tristes minguados sonhos que a infância assassinou

trazias nas mãos a jangada da paixão
escrevias nos absolutos números complexos as amêndoas com chocolate
que o vento imaginava
e não sabendo que o cacimbo lhe pertencia...
ela adoptou como filha a doce menina equação diferencial

ela é a integral tripla dos seios loucos com voz de rascunho
sente no corpo o aparo da caneta de tinta permanente
acaricia-lhe as coxas como quando se folheia um livros de poesia...
e as palavras saltitam como gotinhas de suor na face alegre da Lua
ela é a integral que transporta na mão a jangada com olhos castanhos


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 19 de Setembro de 2013

terça-feira, 25 de junho de 2013

O gato “Orlando”

foto: A&M ART and Photos

Um círculo de espuma
no centro sombrio de uma tela mergulhada em insónia
junto à fronteira que separa a noite do dia
o mar rasurado misturando-se em lágrimas e pequenos silêncios de papel...
e de um sofá submerso em sonhos pincelados de sal... ouve-se o gato “Orlando” em gemidos de sono,

Ele inventa a madrugada sobre os telhados de Lisboa
e pinta nas manhãs de neblina a paisagem invisível do rio envergonhado
atravessado por uma ponte rabugenta
enferrujada pelo vento das nortadas entre despedidas e desejadas barcaças
derramando a solicitude em palavras abstractas e insignificantes,

O desejo em tua felina pele voando sobre as árvores do Tejo
confunde-te com gaivotas e pernaltas em pétalas de açúcar
barcos apaixonados
e astronautas
e no final do dia dizes-me que no Sábado vais ficar ausente de mim,

Habituei-me às tuas garras sobre o meu peito em papel-cartão
marinheiro tu saboreando sorvetes de chocolate como broches na lapela do mendigo artista
dormindo sobre a calçada e desenhando nos teus tornozelos as equações trigonométricas da paixão
e procurando ângulos no negro quadro separando a parte real da parte imaginária
os números complexos em ti descendo o corpo do círculo de espuma,

Estás nua
geada de sémen em migalhas de areia
correndo esquinas e travessas em madeira
pilares e vigas
e sorriso algum emerge dos teus lábios de cidade adormecida... vadia e prostituta.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha