Mostrar mensagens com a etiqueta mágoa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta mágoa. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Os amantes

 

Se eu pudesse

Partir

Todos os vidros da minha janela

Partia-os

Abraçava-me aos cortinados

Como se abraçam os amantes

Desenhava com os vidros partidos

No meu corpo

O silêncio

Depois

Puxava de um cigarro

E esperava que o relógio que transporto no peito adormecesse

 

 

Francisco Luís Fontinha

24/10/2022

sábado, 5 de abril de 2014

fantasmas do teu jardim


lia no teu o olhar o cansado abismo
aquele homem vestido de naftalina com odor a solidão
eras um livro sem palavras, um livro só, descalço... um livro que todos apelidavam de saudade
lia no teu olhar o silêncio da sanzala de prata
meninos que inventavam amanheceres
e meninas que dormiam fingindo o cacimbo da dor

lia e não queria acreditar
que havia sofrimento nos teus desejados ombros
lia e não queria acreditar
que existia no teu rosto lágrimas de chorar

rochas embalsamadas, pilares de areia, zinco, zinco que embrulhava a tua mágoa
e eu, eu acreditava que eras em porcelana
pintada de rosa adormecida
e eu, eu acreditava que no teu jardim viviam fantasmas..., fantasmas... meu amor
podia lá ser
podia lá ser..., no teu jardim... fantasmas...

lia no teu olhar o triângulo equilátero da tua paixão
pegava nos teus ângulos, calculava o seno e o cosseno do teu mesmo olhar
aquele que eu lia
lia... e deixei de ler
fiquei cego, ou... simplesmente voaste em direcção à ponte sem treliças
e deixei de olhar

e deixei de viver
lia no teu olhar o poema envenenado pelo ciume
lia e não mais quero ler
ler... o que diz o teu olhar... meu amor


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 5 de Março de 2014