lia no teu o olhar o cansado abismo
aquele homem vestido de naftalina com
odor a solidão
eras um livro sem palavras, um livro
só, descalço... um livro que todos apelidavam de saudade
lia no teu olhar o silêncio da sanzala
de prata
meninos que inventavam amanheceres
e meninas que dormiam fingindo o
cacimbo da dor
lia e não queria acreditar
que havia sofrimento nos teus desejados
ombros
lia e não queria acreditar
que existia no teu rosto lágrimas de
chorar
rochas embalsamadas, pilares de areia,
zinco, zinco que embrulhava a tua mágoa
e eu, eu acreditava que eras em
porcelana
pintada de rosa adormecida
e eu, eu acreditava que no teu jardim
viviam fantasmas..., fantasmas... meu amor
podia lá ser
podia lá ser..., no teu jardim...
fantasmas...
lia no teu olhar o triângulo
equilátero da tua paixão
pegava nos teus ângulos, calculava o
seno e o cosseno do teu mesmo olhar
aquele que eu lia
lia... e deixei de ler
fiquei cego, ou... simplesmente voaste
em direcção à ponte sem treliças
e deixei de olhar
e deixei de viver
lia no teu olhar o poema envenenado
pelo ciume
lia e não mais quero ler
ler... o que diz o teu olhar... meu
amor
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 5 de Março de 2014
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