Conheci o
Alfredo numa noite de copos e charros, conversávamos de literatura e poesia, e
logo que o olhei percebi que além de estar todo vestido de negro com uma
estrela branca no peito, era tímido.
No final da
noite levei-o para casa, acomodei-o e dei-lhe comida, e quando o questionava
sobre este ou aquele assunto, o Alfredo apenas me respondia que sim ou que não,
e confesso que me é muito difícil conversar com alguém que quando questionado
apenas responde, sim ou não.
Às vezes,
acordava maldisposto, muito triste, mas sempre pensei que se devia ao facto de
ele estar ausente da família e daqueles que amava.
Nunca percebi a
tristeza do Alfredo.
Hoje, enquanto
assassino telas em branco com os riscos de merda que lá coloco, o Alfredo
olha-me como se me estivesse a dizer…
Oh meu rapaz,
deixa-te de pincelares e assassinares telas porque não tens jeito nenhum para
isso,
E quando olho as
telas assassinadas por mim, percebo que o Alfredo tem toda a razão.
O Alfredo é um
gatinho, é invisível e todas as noites me visita enquanto eu assassino telas e
folhas de desenho.
Coitado do
Alfredo; ter que conviver e coabitar com um assassino de telas e de folhas de
desenho.
Alijó,
12/01/2023
Francisco Luís
Fontinha
(ficção)
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