domingo, 21 de novembro de 2021

Apenas, apenas menina do mar

 

Oiço-te, madrugada em delírio,

Pedacinho de voz

Que voa junto ao mar.

Oiço-te, noite obscura da vaidade,

Oiço-te, sabendo que não consegues falar;

Por medo, as palavras da verdade.

Oiço-te, poema envenenado

Pelo desejo de um luar só meu,

Com cadeiras, uma mesa e, alguns livros de leitura.

Oiço-te, percebendo que amar

É mais do que amar.

Oiço-te, madrugada em delírio,

Pedacinho de voz

Que voa junto ao mar.

Oiço-te, primeiro beijo.

Oiço-te, o meu primeiro poema,

O meu primeiro texto.

Oiço-te, sabendo que dentro da tristeza,

Habita a canção da saudade,

E dentro da canção da saudade,

Habitam as tuas doces palavras;

Tem cuidado!

Não venhas tarde hoje!

E, peço-te,

Peço-te que quando me ouvires,

Te lembres do meu papagaio em papel,

Aquele tricolor, lembras-te?

Sim, aquele que deixamos, lá longe, junto à sanzala.

Oiço-te, madrugada em delírio,

Pedacinho de voz

Que voa junto ao mar,

Oiço-te, apenas,

Apenas menina do mar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21/11/2021

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