foto de: A&M ART
and Photos
|
Não acredito nos
teus cabelos, são voláteis, são versos de amor encurralados numa
vidraça estilhaçada,
Um dia, qualquer
dia, todas as árvores do meu jardim se transformarão em desejo,
das suas folhas,
cairão palavras,
coisas,
pedras,
cabelos, vidraças...
todas... estilhaçadas,
Todas perfumadas,
não acredito, e
tenho medo à noite vestida de insónia,
todas elas, todas
mesmo..., um dia, qualquer dia..., cairão na tua mão,
como granizo
envenenado pelo silêncio dos teus beijos,
como barcos defuntos
no cemitério do prazer,
Não acredito nos
teus cabelos,
e quando sinto a
presença do teu corpo, percebo que não existe corpo,
apenas uma montanha
de sombras,
apenas..., e nada
mais do que isso, porque, porque tu nunca tiveste corpo,
porque..., porque tu
não existes!
Se não existes,
se não tens
corpo...
como poderás ter
beijos em silêncio..., como?
Ah... e a tua boca?
Sem palavras, sem
lábios, sem... sem comestíveis corações de papel,
ao jantar,
uma colher de sopa
misturada com algumas insignificantes carícias...
e..., e uma flor
semeada no teu ventre de cristal,
(Não acredito nos
teus cabelos, são voláteis, são versos de amor encurralados numa
vidraça estilhaçada)
Tínhamos cartas que
os anos 90 engoliram numa tarde de Agosto,
nas folhas apenas
alguns desenhos,
um alucinante odor a
paixão,
e..., e tudo se
perdeu, e tudo... tudo mesmo, morreu numa noite de Novembro...
Viva a solidão!
Viva esta vida sem vida... Viva, vivendo, sem cartas com odor a
“paixão”,
(ouvem-se sílabas
de areias no teu olhar)
E a luz da minha
biblioteca, ténue como as minhas mãos, despede-se de mim com um
sorriso de incenso.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 12 de
Junho de 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário