Toco-te,
estilhaças-te como
o espelho da velha cristaleira,
depois, depois entra
o mar nas tuas veis de nylon,
toco-te, e finjo ser
um barco esquecido nas tuas mãos,
em silêncio, em
silêncio para que ninguém perceba que no meu corpo habitam
porcelanas em cacos,
alguns sons
metálicos, melódicos, alguns... alguns ciclónicos ventos,
perguntas-me como é
o amanhecer quando lá longe a Lua se esconde na montanha do desejo,
e eu, eu sem jeito,
não sei responder,
entretenho-me a
construir beijos num velho muro em xisto,
preguiçosos,
doentes,
toco-te e sinto, a
claridade do teu olhar a entrar na caverna do Adeus,
(Ai como eu
sofro...! Oiço-o enquanto alicerço as minhas pernas ao cansaço)
Querias o amor, e
eu, eu dei-te o amor...
daí sobejaram os
segmentos de recta da tua boca,
e deixaste alguns
círculos de chapa nos cortinados da madrugada,
(Ai...! Oiço-o...)
E deixei de o ouvir,
afogou-se num poço
de luz,
e...
e reapareceu quando
um menino de bibe descobriu que existia noite depois do dia,
toco-te, e
estilhaças-te nas escadas sem rumo,
desgovernadas,
loucas, loucas e
apaixonadas...
Consegues imaginar a
paixão de uma escada?
Claro que não,
claro que não...
dizes-me,
que... que as
escadas não se apaixonam,
que as pedras, os
cacos de porcelana... nunca existiram,
(Ai como eu sofro!
Oiço-o... na sua voz roufenha... São pássaros, menino, são
pássaros... pássaros de cristal)
O caraças
Toco-te e finges
orgasmos de coloridas flores,
toco-te, toco-te
e... estilhaças-te como o espelho da velha cristaleira,
morres,
desapareces no
interior da alvenaria ensonada,
lá fora, nada, nem
uma locomotiva para te recordar,
um rio, um
Cacilheiro embriagado, nada...
lá fora, toco-te,
toco-te e acordo...
Ai... ai como eu
sofro, menino! Não..., não tenho sorte nenhuma.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de
Junho de 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário