sexta-feira, 13 de junho de 2014

O esconderijo da Lua


Toco-te,
estilhaças-te como o espelho da velha cristaleira,
depois, depois entra o mar nas tuas veis de nylon,
toco-te, e finjo ser um barco esquecido nas tuas mãos,
em silêncio, em silêncio para que ninguém perceba que no meu corpo habitam porcelanas em cacos,
alguns sons metálicos, melódicos, alguns... alguns ciclónicos ventos,
perguntas-me como é o amanhecer quando lá longe a Lua se esconde na montanha do desejo,
e eu, eu sem jeito, não sei responder,
entretenho-me a construir beijos num velho muro em xisto,
preguiçosos,
doentes,
toco-te e sinto, a claridade do teu olhar a entrar na caverna do Adeus,

(Ai como eu sofro...! Oiço-o enquanto alicerço as minhas pernas ao cansaço)

Querias o amor, e eu, eu dei-te o amor...
daí sobejaram os segmentos de recta da tua boca,
e deixaste alguns círculos de chapa nos cortinados da madrugada,

(Ai...! Oiço-o...)

E deixei de o ouvir,
afogou-se num poço de luz,
e...
e reapareceu quando um menino de bibe descobriu que existia noite depois do dia,
toco-te, e estilhaças-te nas escadas sem rumo,
desgovernadas,
loucas, loucas e apaixonadas...
Consegues imaginar a paixão de uma escada?
Claro que não, claro que não...
dizes-me,
que... que as escadas não se apaixonam,
que as pedras, os cacos de porcelana... nunca existiram,

(Ai como eu sofro! Oiço-o... na sua voz roufenha... São pássaros, menino, são pássaros... pássaros de cristal)

O caraças

Toco-te e finges orgasmos de coloridas flores,
toco-te, toco-te e... estilhaças-te como o espelho da velha cristaleira,
morres,
desapareces no interior da alvenaria ensonada,
lá fora, nada, nem uma locomotiva para te recordar,
um rio, um Cacilheiro embriagado, nada...
lá fora, toco-te,
toco-te e acordo...

Ai... ai como eu sofro, menino! Não..., não tenho sorte nenhuma.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Junho de 2014

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