Tens a palavra amor escrita nos olhos da lua
(e hoje não vou escrever porque certamente não irás ler)
não me importo com os voos das gaivotas
dentro das tardes na esplanada junto ao rio das lamentações
os homens enlouqueceram com a saudade das areias finas de Dezembro
quando as nuvens vestiam as luzes de néon que a cidade engole
e alimentam as canções de um bar de “putas”
ou travestis trapalhões dançando sobre as mesas da manhã
Cais do Sodré esconde-se nos sexos murchos que das palavras
atormentam as raízes das árvores
e as asas dos pássaros
dos olhos da lua
O quê?
Luzes que fingem os carroceis da infância
o Baleizão depois do circo
a tenda do circo a voar sobre os telhados da Ajuda
O quê? Este rio que me come em pedacinhos como se eu fosse os resíduos do intestino
que infestavam as margens do Tejo
dos olhos da lua
O quê?
A palavra amor
quando eu me sentava no infinito
a reler as cartas de amor
que um mendigo deixou embrulhadas nas fanecas do jantar...
e eu percebia as lágrimas das noites de vodka penduradas nos carris para Belém.
(Poema não revisto)
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