sábado, 19 de março de 2022

Estas palavras

 

As palavras cansadas

Que dormem nos teus lábios,

São poemas, são canções,

São flores

Neste jardim sem nome.

As palavras cansadas

Que habitam nas tuas mãos,

São saudade,

São enxada…

São diamantes das manhãs em fome.

As palavras…

Balas que disparo contra o teu peito.

 

 

Alijó, 19/03/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 17 de março de 2022

Aos teus lábios

 

Aos teus lábios

Lanço as minhas palavras em desejo,

Enquanto o mar

Se alicerça nos teus cabelos.

Aos teus lábios

Ergo os meus beijos

Como se fossem pássaros de amar

Ou canções de Primavera.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 17/03/2022

sábado, 12 de março de 2022

O caderno de geada

 

O cachimbo suicida-se nas mãos do poeta.

Era noite, caminhava pelos trilhos que a geada tinha desenhado e, na mão, o caderno embalsamado pelas palavras da morte, tinha medo do escuro, tinha medo dos versos envenenados pelo luar e, mesmo assim, caminhava, caminhava,

O cachimbo embrulhado em metástases desesperadas pela fadiga do corpo, do fígado saía o camuflado texto das palavras inventadas pelas crianças da aldeia, às vezes, poucas, tinha fome e,

Fumas?

E fumava desalmadamente até o nascer do Sol, poisava a caneta sobre a mesa-de-cabeceira, atirava o caderno contra o espelho, sonhava;

Sonhava!

O cabelo que outrora lhe tinha pertencido, fugiu para a praia mais distante, ficando ele, apenas com o usufruto do rio, uma enxada, rangia lá longe, nos socalcos e, o cachimbo

Sonhava!

E o cachimbo de mão dada com o caderno, como o amor de duas flores, uma roseira e um craveiro, uma sombra de luz poisava na boquilha, marinheiro agreste dos oceanos enlouquecidos, o falso milagre,

Sonhava…

E suicidou-se na minha mão.



Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12/03/2019