domingo, 17 de maio de 2015

O fim

Tudo está perdido, o túnel da escuridão é absorvido pelo sofrimento dos ossos em pó, há uma janela no teu olhar, um solstício fictício das madrugadas dos outros,
- Os homens entre quanto paredes de nada, cinco fios de tristeza, e
Tudo,
Tudo parece desabar sobre a minha sombra, sou aniquilado pelos beijos da madrugada, não sofro, não sei sofrer ou chorar,
Tudo,
- Os homens escondidos dentro do cubo da incerteza, a luz, e a beleza, os homens acorrentados aos sonhos,
- Tudo?
Não o sei, tudo está perdido, os panfletos do sofrimento, ardem nos teus alegres momentos na Baía de Luanda, ontem eramos felizes, e hoje
Os homens, mergulhados nas arcadas da morte, vestidos de pigmeus assalariados, o trabalho, o sonho
Tudo?
Perdeu-se,
Hoje,
Como se perdem todas as gaivotas do Tejo, entre petroleiros e amores clandestinos, ela ama-o…
Ele…
Ama-a em segredo,
As viagens, o medo, o medo de perder, e de ser perdido,
Ele…
Chora, suspende-se nos lábios sem sorriso, sem cor, mortos e abstractos, sem perceberem que dentro de um livro habita a prostituta da desilusão, a tristeza,
- Tudo e todos?
Os homens, os meus e os teus, quadriculados beijos entre equações de amor…
 
(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 17 de Maio de 2015


Entre o silêncio e a dor…


Finjo que não pertenço à tua vida,

Esqueço,

E não o mereço,

Enquanto dormes saboreando as cinzas invisíveis da dor,

Esqueço,

E apareço,

Nas escadas ingrimes do sofrimento,

Não alimento a dor com o nascer da madrugada,

Que amanhã…

Que amanhã não sei se vai acordar,

Finjo,

Esqueço,

 

Estas tristes sílabas doentes

Fundeadas nos braços de um rio,

Sem nome,

Porque os meus rios não têm nome,

Não têm idade,

Sexo,

Ou…

Ou… ou religião,

A cor da pele não me interessa,

Esqueço

E não mereço,

Os teus lábios ressequidos pelo abismo dos rochedos de cartão,

 

E amanhã,

Se a madrugada acordar em ti,

Esqueço,

E desapareço,

Das noites infinitas do teu triste olhar…

Que só o mar consegue perceber,

 

E

 

E desenhar.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 17 de Maio de 2015

Os pássaros da minha infância


Vejo-te partir,

Sem o sentir,

Vejo-te partir…

E faltam-me as palavras para te acompanhar,

Para te fazerem sorrir,

E voares como os pássaros da minha infância,

Vejo-te partir,

Na ausência,

De nunca,

De nunca regressares,

Ao meu livro,

Ao meu poema,

 

Vejo-te partir da minha poesia…

Como uma fera,

Ou uma pena,

 

Enquanto desce a noite sobre os teus ombros de pó.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 17 de Maio de 2015