segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Só... esta fogueira sem sentido

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O término do sono em constante sonolência,
a cabana do silêncio quase em ruínas,
violentas tempestades de palavras,
gritos e lágrimas,
em revolta...
como se existisse entre nós uma fogueira,
abandonada,
e... e só!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2014


domingo, 28 de dezembro de 2014

Não tempo para amar

(desenho de Francisco Luís Fontinha - Alijó) 



Não tenho tempo para amar...
como se para amar fosse necessário tempo,
ser amado,
pertencer ao vulcão das tempestades,
não sentir
sentindo...
o desejo das palavras,
o significado das cidades de gelo,

não tenho tempo para ser amado...
o amor é um rochedo construído de velhos farrapos e alguns pedaços de aço,
o amor são esqueletos de papel...
no coração de uma mulher,

não tenho tempo para amar...
como se para amar fosse necessário tempo,
ser amado,

os sítios proibidos dos rios do teu ventre,
o medo de amar-te...
quando eu sou apenas uma imagem,
tão velha... tão velha como os candeeiros das ruelas viciadas,
tão velha... como as ruas da minha infância,
o triciclo em queda livre,
a sombra das mangueiras poisadas no meu sexo...
e eu, e eu sem tempo para amar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 28 de Dezembro de 2014


Os poemas ao fim da tarde


Os poemas ao fim da tarde
este mesquinho silêncio
quando entra pela janela
e lá fora
um barco em espera
esquelético
cansado
farto do mar...
os poemas ao fim da tarde
com fome de matar
a voz do teu clitóris em tristes soluços na madrugada
os poemas ao fim da tarde... são poemas de nada,
poemas... poemas de amar
o estranho invisível quadrado com sorriso de vidro
há nas palavras a força da revolta
o corpo em lágrimas
que só a cidade...
que só a cidade consegue absorver
os poemas ao fim da tarde
o vento de sémen contra uma árvore
e os pássaros dos teus cabelos
brincando na seara
entre pedras e enxadas
sempre... sempre, sempre que um relógio acorda... e ninguém sabes onde habitam “os poemas ao fim da tarde”.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 28 de Dezembro de 2014